É possível fazer uma cartografia dos afetos que nos movem pelas ruas de uma cidade? Parece ser essa a pergunta que a coleção “Dicionário Amoroso das Capitais Brasileiras”, da Editora Casarão do Verbo, pretende responder. O que os livros dessa coleção pretendem é fazer ver cada cidade através dos olhos de alguém que é apaixonado por elas.
A resenha “Das paixões despertadas pelas cidades” foi escrita por Eliana Kuster – arquiteta e doutora em Planejamento Urbano e Regional, professora do IFES – Instituto Federal do Espírito Santo. O texto é um dos destaques da Revista eletrônica e-metropolis nº 17.
Das paixões despertadas pelas cidades
Por Eliana Kuster
Mário Quintana, em seu poema “O Mapa”, nos revela o segredo: uma cidade é um corpo. Podemos nos familiarizar tanto com ela que passamos, como o poeta, a senti-la como parte da nossa própria anatomia. Conhecer suas ruas, becos, vielas, casarios, costumes, como quem sabe de cor os sinais, cicatrizes, cor dos olhos e textura da pele de um ser amado. Quem sabe, conhecê-la como a nós mesmos, Quintana aponta.
É possível fazer uma cartografia dos afetos que nos movem pelas ruas de uma cidade? Parece ser essa a pergunta que a coleção “Dicionário Amoroso das Capitais Brasileiras”, da Editora Casarão do Verbo, pretende responder. Seus livros buscam traçar um mapa das cidades capitais no Brasil, mas, de forma bem diversa dos guias turísticos tradicionais, sem se preocupar com indicações de hotéis e restaurantes, melhores locais para compras, faixas de preço e horários de funcionamento. O que os livros dessa coleção pretendem é fazer ver cada cidade através dos olhos de alguém que é apaixonado por elas.
Em um formato que lembra realmente o de organização dos dicionários, os livros da coleção desenvolvem-se através de verbetes dispostos em ordem alfabética intercalados com algumas ilustrações que remetem aos pontos abordados no texto. Não há uma ordem obrigatória de leitura, podemos apenas abrir ao acaso ou consultar verbetes específicos. Os escritores – um para cada capital – seguem uma escrita leve, descontraída, como em uma conversa informal com o leitor.
O primeiro livro, escrito por Altair Martins, nos traz a cidade de Porto Alegre através de verbetes como ‘Elis Regina’, ‘Guaíba’, ‘Largo dos Açorianos e ‘Pôr do sol”. Misturam-se em suas páginas, portanto, personagens, lugares e elementos impalpáveis que caracterizam a cidade. Neste último, o autor parece concentrar seu afeto pela capital gaúcha, quando afirma: Porto Alegre é especial por sua luz, uma luz de incidências cheias, que resiste até que o sono a vence. As águas levam as cores a pique. É quando a noite recolhe tudo. Na camomila do horizonte, a cidade dorme.
Leia a resenha completa na edição nº 17 da Revista e-metropolis.