No último artigo da Revista Cadernos Metrópole n.43, intitulado Da “cidade integrada” à “favela como oportunidade”: empreendedorismo, política e “pacificação” no Rio de Janeiro, as autoras Lia de Mattos Rocha e Monique Batista Carvalho tratam de um tema de elevada importância para o estudo das tensões urbanas na cidade do Rio de Janeiro, as quais envolvem o controle, militar, comercial e ideológico, sobre o território. As autoras analisam as mudanças e as permanências na produção de novas sociabilidades nas favelas do Rio de Janeiro, após 10 anos de pacificação, realizando um trabalho etnográfico nas favelas em que há Unidades de Polícia Pacificadora (UPP).
À luz das reflexões sobre a acumulação capitalista no sistema urbano, analisam a conversão da cidade do Rio de Janeiro em commodity, focalizando as novas sociabilidades nas favelas cariocas, crescentemente baseadas em ações de empreendedorismo e nos mecanismos de mercado.
Para as autoras, o Rio de Janeiro caracteriza-se, hoje, como uma cidade-mercadoria consolidada, com a conversão até mesmo das regiões periféricas em espaços de valorização do capital. A transformação das favelas em mercadorias constituiu aspecto importante das transformações urbanas pelas quais passa a cidade, e a “pacificação” dessas áreas representou passo indispensável à concretização do referido processo. A partir de trabalho de campo nas favelas com presença de Unidades de Polícia Pacificadora, as autoras apresentam trechos de entrevistas realizadas com diferentes atores da política urbana, discutindo a capacidade dessa ideologia em promover novas sociabilidades e novos usos desses territórios.
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Palavras-chave: favelas; pacificação; empreendedorismo; Rio de Janeiro; militarização.
Keywords: slums; pacification; entrepreneurship; Rio de Janeiro; militarization.
Resumo
A intervenção federal na área da segurança pública no estado do Rio de Janeiro, iniciada em fevereiro de 2018, e o anúncio da extinção de parte do Programa de Polícia Pacificadora levantaram a questão sobre o que muda e o que permanece no cenário das favelas cariocas após dez anos de “pacificação”. Este artigo procura responder a tal indagação, jogando luz sobre uma dimensão desse processo: a produção de uma nova sociabilidade nesses territórios, onde o empreendedorismo se apresentou como elemento fundamental. A partir de etnografia realizada em favelas com UPP e do acompanhamento de projetos públicos e privados executados à época, analisamos o impacto dessa produção sobre o tecido associativo dessas localidades.
Abstract
The federal intervention in the public security area in the state of Rio de Janeiro, which started in February 2018, and the announcement of the partial extinction of the Pacifying Police Program, have raised the following question: what changes and what remains the same in the scenario of Rio’s slums after ten years of “pacification”? This article aims to answer this question, shedding light on one dimension of this process: the production of a new sociability in these territories, where entrepreneurship has presented itself as a fundamental element. Based on an ethnography carried out in slums with Pacifying Police Units, and on the monitoring of public and private projects executed at the time, we analyze the impact of this production on the associative life of these localities.