O livro “Crimes e Cidades” do sociólogo e diretor do Centro de Estudos em Criminalidade e Segurança Pública (Crisp/UFMG), Cláudio Beato, trata das interconexões entre crime e ambientes urbanos, bem como dos dados e indicadores necessários para a compreensão dessas dimensões. Qual é a dinâmica da violência e criminalidade nos centros urbanos brasileiros? Como eles se concentram e quais os fatores que podem explicar algumas dessas concentrações? O estudo de Beato dialoga com os projetos que vêm sendo desenvolvidos pelo Observatório das Metrópoles cuja investigação busca relacionar os limites das dinâmicas urbanas e a produção da violência.
“Crime e Cidades” é resultado da reflexão que Cláudio Beato vem desenvolvendo em suas pesquisas no Crisp/UFMG, como o modo que se tem pensado teoricamente o crime e a violência nas Ciências Sociais a partir de alguns enfoques como a rotulação ou os componentes culturais na explicação dos comportamentos de grupos e de criminosos. Este pensamento, segundo Beato, tem dado origem ao que podemos chamar de políticas públicas de segurança. “Busco também desenvolver algumas ideias que partem das comunidades urbanas que concentram os crimes. Crimes são fenômenos espacialmente concentrados, e eu discuto como isto se dá em diferentes capitais no Brasil, bem como a regionalidade que existe no País como um todo e que não se confunde com as divisões sócio políticas. Mais do que uma propriedade de pessoas ou grupos, temos o próprio ambiente das cidades, suas zonas de exclusão espacial e de concentração de desvantagens socioeconômicas como dimensões geradoras da violência”, explica.
O sociólogo conta que na publicação há também uma análise do fenômeno da violência a partir de questões inseparáveis como a exclusão espacial e seus correlatos de pobreza e desigualdades concentradas. “Finalmente, julguei que era muito importante discutir mais em detalhe a questão da gestão da informação nos estudos criminológicos e nas políticas públicas de segurança. Não existe nenhuma situação ruim em segurança pública que não se inicie com uma péssima situação em relação aos dados. Daí a centralidade que as informações têm para a área. Além disso, procuro descrever um pouco o contexto empírico no qual estas discussões ocorrem”, afirma Beato.
A violência nas metrópoles
De acordo com Cláudio Beato, dois terços dos homicídios ocorrem nas grandes metrópoles brasileiras. Por conta desses dados, a tese de uma migração para o interior do país não se sustenta. “Crimes são uma característica indissociável de nossas grandes cidades e tendem a se concentrar cada vez mais nelas, se nada for feito. Isto tem a ver com o anonimato, bem como com uma proliferação de alvos, além de mecanismos rarefeitos de controle que favorecem esta distribuição”, argumenta.
Por diversas razões, crimes violentos tendem a se concentrar nas grandes cidades. Na verdade, a partir de 100 mil habitantes, observa-se um crescimento dos crimes que se acentua à medida em que a cidade aumenta o tamanho de sua população. “Isto ocorre porque cidades concentram muitos aspectos positivos de nossas vidas tais como a riqueza, cultura e conhecimento. Mas também criam oportunidades para um lado mais “dark” que leva à concentração de crimes. Estas oportunidades surgem em parte porque é nos ambientes urbanos que os mecanismos de controle social são mais tênues, e nossa capacidade de controle do ambiente também diminui”.
Para mais informações sobre “Crime e Cidades”, acesse a página do Crisp.
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