Pesquisadores do Núcleo Curitiba do Observatório das Metrópoles, que também integram o grupo Pesquisa e Extensão em Políticas Sociais e Desenvolvimento Urbano (PDUR/UFPR), lançaram mais um relatório de pesquisa com os resultados de um estudo sobre as ações de gestores públicos frente à pandemia de COVID-19 no ano de 2020, com foco na Região Metropolitana de Curitiba (RMC).
A partir dos resultados obtidos, os pesquisadores concluíram que as políticas públicas implementadas em níveis municipal, estadual e nacional não seguiram no sentido de combate à doença, mas apenas de gerenciamento de danos, evitando tomar medidas efetivas de distanciamento social. Logo, o “gerenciamento da pandemia” priorizou abertamente a preservação da economia em detrimento da saúde dos cidadãos da RMC. As medidas tomadas buscaram apenas mitigar os impactos causados pela doença, por meio de ações como a criação de novos leitos de Unidades de Terapia Intensiva (UTI) e a flexibilização de horários para o funcionamento do comércio.
Confira a nota elaborado pelos pesquisadores:
Gerenciamento da pandemia do novo coronavírus na Região Metropolitana de Curitiba
Os maiores municípios da RMC encerraram o ano de 2020 com mais de 160 mil casos confirmados de COVID-19 e mais de 3 mil mortes causadas pela doença. Monitoramento do combate à pandemia na região revela a baixa testagem e a subnotificação como políticas, a partir das quais se construiu um quadro de estabilidade artificial, que mascarava a necessidade do endurecimento das medidas de isolamento social. Com base nesses dados irreais foi criado um sistema de bandeiras na capital Curitiba, que estabelecia critérios técnicos para definir o abrandamento ou enrijecimento das medidas de isolamento social e o funcionamento do comércio.
A estratégia foi a de administrar os impactos da crise sanitária ao invés de enfrenta-la, o que definimos como “gerenciamento da pandemia”. No lugar de evitar a transmissão do novo coronavírus, optou-se por fornecer lugar para tratamento dos doentes, trabalhando por meses a fio com o SUS no limite, mediante ampliação de leitos, ou seja, as políticas adotadas como o sistema de bandeiras visavam sobretudo preservar o sistema e sua capacidade de, continuadamente receber novos pacientes. Se a quantidade de leitos tivesse permanecido a mesma do início da pandemia (308 leitos), em dezembro quando se registrou o maior número de pacientes internados (597 leitos ocupados em 14 de dezembro) a demanda teria excedido em 93,83% a oferta de leitos. Em números absolutos, 289 pessoas ficariam sem encontrar uma vaga. Além disso, o poder público tinha conhecimento das altas taxas de letalidade entre os pacientes graves, cerca de 25%, e que estava expondo milhares de pacientes a risco de morte.
Durante os meses de aparente estabilidade (entre setembro e outubro) a manutenção da estratégia de “gerenciamento” estabeleceu o que pode ser chamado de “novo normal”: “horário comercial pandêmico”; uso obrigatório de máscaras; picos de contaminação após feriados; mortes diárias por COVID-19. Todos estes esforços se justificavam para não fechar a economia, o maior objetivo dos gestores desde a confirmação dos primeiros casos, que se sobrepôs ao direito à saúde.
Este relatório é uma atualização do Dossiê Local elaborado pelo Núcleo Curitiba que compõe o Dossiê Nacional “As Metrópoles e a COVID-19”.