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O resultado da votação para presidente no primeiro turno, quando consideramos somente as metrópoles, apresenta diferenças quantitativas interessantes em comparação com os resultados nacionais. Esse recorte parece interessante por diversas justificativas, já que essas regiões respondem  também por grande parte da produção da riqueza nacional, assim como concentram grande parte dos problemas urbanos como violência e criminalidade, pobreza, moradia precária, etc.

 

Como votaram os cidadãos metropolitanos no primeiro turno das eleições presidenciais de 2010?
Filipe Souza Corrêa
Sóciologo, Mestrando em Planejamento Urbano e Regiona – IPPUR/UFRJJuciano Rodrigues
Economista, Doutorando em Ubanismo – PROURB/UFRJ

As principais regiões metropolitanas brasileiras concentram hoje aproximadamente 37% da população nacional e, ao mesmo tempo, 36,3% do eleitorado do país. O número total de eleitores metropolitanos corresponde a mais 49,2 milhões de cidadãos em quase 300 municípios. Destes, mais de 41,5 milhões cumpriram o seu dever cívico, comparecendo às urnas no dia 3 de outubro e declarando as suas escolhas para presidente, governador, senadores, deputado federal e deputado estadual.

O resultado da votação para presidente no primeiro turno, quando consideramos somente as metrópoles, apresenta diferenças quantitativas interessantes em comparação com os resultados nacionais. Esse recorte parece interessante por diversas justificativas, já que essas regiões respondem também por grande parte da produção da riqueza nacional, assim como concentram grande parte dos problemas urbanos como violência e criminalidade, pobreza, moradia precária, etc. Num primeiro olhar descritivo sobre os resultados do primeiro turno das eleições presidenciais, constatou-se que a distribuição dos votos entre os presidenciáveis varia entre as metrópoles consideradas e internamente a essas áreas – neste caso consideramos para fins de descrição uma segmentação entre os núcleos metropolitanos e suas periferias, entretanto não descartamos a hipótese de que um olhar mais profundo sobre o que consideramos aqui como periferia pode revelar situações interessantes. Esses resultados destacam também assimetrias importantes entre as áreas metropolitanas e o restante do país que consideramos aqui como não-metropolitano, assim como também fica evidente assimetrias no perfil da votação entre as cinco grandes regiões.
Primeiramente, vale destacar o resultado obtido quando observamos o peso da votação metropolitana no total de votos obtidos por cada candidato. Neste caso, Dilma Roussef (primeira colocada no primeiro turno com 47.651.434 votos que correspondem a 46,91% dos votos considerados válidos) e José Serra (segundo colocado no primeiro turno com 33.132.283 dos votos que correspondem a 32,61% dos votos válidos) obtiveram, respectivamente, 34,3% e 33,3% dos seus votos concentrados nas áreas metropolitanas. Por outro lado, o peso das metrópoles é maior na votação de Marina Silva (terceira colocada no primeiro turno, obtendo 19.636.359 de votos que correspondem à 19,33% dos votos válidos) e dos demais candidatos (que juntos obtiveram apenas 1.170.077 votos que correspondem à 1,15% dos votos válidos). Dos mais de 19,5 milhões de votos de Marina, 51,8% foram obtidos nas metrópoles. Nestas, inclusive, quando comparamos a distribuição de votos entre os presidenciáveis, a candidata do Partido Verde obteve um melhor desempenho nas metrópoles do que no país como um todo. Ou seja, enquanto que no conjunto dos votos na escala nacional o percentual de votos obtidos por Marina foi de 19,9%, nas metrópoles ela foi detentora de 26,7% dos votos. Por outro lado, Dilma e Serra que foram qualificados para disputar o segundo turno das eleições presidenciais obtiveram, nas metrópoles, percentuais inferiores se comparados com suas votações no total do país. Dilma alcançou 47,9% dos votos na escala nacional e obteve um percentual um pouco menor no conjunto das metrópoles (42,8%). Na escala nacional, o candidato José Serra foi detentor de 33% dos votos, no entanto, nas metrópoles o percentual de sua votação considerando todos os candidatos foi de 28,9%, parcela da votação bastante próxima da obtida pela terceira colocada, Marina Silva. Neste ponto, vemos claramente que a votação dos primeiros colocados no primeiro turno, Dilma e Serra, se deve em maior medida às áreas não-metropolitanas, sendo que a primeira apresenta um desempenho nas áreas metropolitanas melhor do que o segundo. Já a candidata Marina Silva, apresenta um perfil de votação mais metropolitano do que os primeiros colocados. Hipóteses explicativas para esse desempenho metropolitano da candidata do Partido Verde podem ser ensaiadas como a identificação da temática do meio ambiente como uma demanda política assumidamente urbana e em grande medida metropolitana, todavia, não exploraremos essas hipóteses no presente artigo, mas destacamos o fato de que o desempenho da votação obtida por Marina Silva pode indicar informações interessantes sobre o perfil do eleitorado metropolitano.
Quando observamos o total da votação nos núcleos metropolitanos, Dilma obtém a maior parte dos votos em 7 núcleos metropolitanos: Belém, Campinas, Fortaleza, Manaus, Recife, Rio de Janeiro e Salvador. Nesta última e em Fortaleza a candidata obteve mais de 50% dos votos. Serra obtém a maior parte dos votos nos núcleos metropolitanos de Curitiba, Florianópolis, Goiânia, Porto Alegre e São Paulo. Em Florianópolis, vale destacar, é a única metrópole onde o candidato do PSDB vence também na periferia. Nas demais metrópoles, considerando-se o conjunto dos municípios da periferia, a candidata Dilma Roussef é quem obtém a maioria dos votos, com predominância (mais de 50% dos votos) em Fortaleza, Manaus, Recife e Salvador. A candidata. Marina Silva, por sua vez, apesar de obter maioria dos votos nos núcleos metropolitanos de Belo Horizonte, Brasília e Vitória, o que é um resultado significativo para o terceiro colocado no primeiro turno, não obtém maioria dos votos em nenhuma das periferias metropolitanas consideradas. No entanto a candidata do PV obteve votação expressiva nas periferias de Belo Horizonte, Fortaleza, Manaus, Recife, Salvador e Vitória; superando, inclusive, a votação do segundo colocado, José Serra.
Comparando-se a votação metropolitana nas Regiões, percebe-se que José Serra vence apenas na região Sul, em todas as outras ocorre a vitória de Dilma. A região Centro-Oeste aparece como a menos polarizada pelos dois candidatos que hoje disputam o segundo turno. Nessa região, Marina Silva foi de 32,7% do votos, aproximando-se dos 35,1% de Dilma e superando Jose Serra, que, por sua vez, obteve 30,8% dos votos metropolitanos na região Centro-Oeste. Vale salientar que muito deste bom desempenho de Marina deve-se à sua expressiva votação no Distrito Federal. O desempenho de cada candidato também difere quando comparamos sua votação metropolitana e não-metropolitana dentro de cada região. Dilma Roussef, por exemplo, que foi dona de 42,8% dos votos válidos nas metrópoles, no restante do país obteve 49,5%. Seu desempenho é mais significativo nas metrópoles do Nordeste, onde obteve 53,1% de todos os votos metropolitanos.
Para além da mera descrição do peso das metrópoles no processo eleitoral é preciso não esquecer que esses lugares têm enorme importância na concentração das forças produtivas do país, considerando-se, inclusive, sua importância como ativo para um projeto de desenvolvimento nacional. Ao mesmo tempo, são nas metrópoles, principalmente em suas favelas e periferias, onde estão concentrados muitos dos desafios a serem enfrentados pelo próximo governo, que incluem as questões ambientais e de saneamento e de infra-estrutura, principalmente de transporte.
¹O Brasil conta hoje com 38 Regiões Metropolitanas (incluindo-s as RIDEs), destas, 15 são consideradas espaços urbanos com funções metropolitanas, pois apresentam características próprias das novas funções de coordenação, comando e direção das grandes cidades na econômica em rede.