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O desafio contemporâneo do “homo urbanus” é encontrar outras vias de sociabilidade capazes de regenerar a vida que se encontra intoxicada-hiperconectada-saturada. As promessas de um capitalismo sustentável e uma vida smart governada pelo uso das tecnologias não parecem ser capazes de propiciar mais qualidade de vida, equidade, segurança, acessibilidade e convivialidade nas cidades. Esse é o ponto de partida do artigo “Cidades afetivas: uma via ecológica para o bem-viver”, destaque da Revista e-metropolis nº 32.

O artigo, assinado pelos professores Vivian Blaso César e Sydney Cincotto, defende que cidades afetivas requerem novas formas de convivialidade como slow food, economia solidária/colaborativa, mandatos coletivos para o bem viver.

REVISTA E-METROPOLIS Nº 32

Abstract

The contemporary challenge of the “homo urbanus” is to find other ways of sociability capable of regenerating the life that is intoxicated-hyperconnected-saturated. The promises of sustainable capitalism and a smart life governed by the use of technologies do not seem to be able to provide more quality of life, equity, security, accessibility and conviviality in cities. Serene decline and well-being policies run counter to the brave new world promised by the triad: smart living, green economy, sustainable development. Affective cities require new forms of conviviality such as slow food, solidarity / collaborative economy, collective mandates for well-being.

 

INTRODUÇÃO

Por Vivian Blaso César e Sydney Cincotto

Um dos maiores acontecimentos do século XX deveu-se ao processo de transição da vida assentada nos campos para as cidades. Imersas no capitalismo neoliberal, as cidades no século XXI estão em crise. Atualmente, boa parte da população urbana da Terra vive atolada no caos urbano, impactada 24 horas por dia pela hiperconectividade. Excesso de automóveis, hiperconsumo, falta de saneamento, poluição, violência, segregação econômica, indigência, miserabilidade, stress e distúrbios psíquicos contribuem para a degradação das relações socioafetivas.

A convialidade cedeu espaço ao medo, à incompreensão, à intolerância, ao individualismo e à privatização da vida, sobretudo com a chegada dos refugiados vindos de territórios acometidos pelas guerras, fomes, catástrofes ambientais ou crises econômicas. Na busca pela vida, ou pela simples sobrevivência, as cidades e seus moradores agonizam.

Governadas pela lógica da globalização, da ocidentalização e do desenvolvimento, e impulsionadas pelo quadrimotor ciência-técnica-economia-lucro, as cidades e seus habitantes necessitam de outras vias para escaparem do paradigma do crescimento acelerado e ilimitado para poderem lidar com as dores do presente. Nelas as pulsões de vida e de morte se produzem e se reproduzem na velocidade da sociedade 24×7 – 24 horas por dia, sete dias da semana. O cansaço, a estafa e o esgotamento são os sintomas do modo de vida das cidades capitalistas contemporâneas.

Superexcitação, hiperatividade e competitividade amplificam os distúrbios psicoafetivos do Homo urbanus que se acredita apenas sapiens-faber-ɶconomicus. Fragmentados, inconscientes da sua realidade antropológica enquanto Homo demens-ludens-consumans, capturados pelo ideário performático do produtivismo↔desempenho, os sujeitos contemporâneos internalizaram os valores do indivíduo empreendedor de si.

Amparados quimicamente, atuam mecânica e incansavelmente em prol da maximização utilitarista das finalidades econômicas em conjunto com a manipulação da natureza na busca de longevidade e felicidade individual. Em nome de um viver bem afogam-se nos excessos e excedentes, corrompem o bem-viver. O eu egocêntrico está no comando e faz sucumbir o nós da convivialidade.

Assistimos nas últimas décadas à velocidade com a qual as ideias abrigadas sob o guarda-chuva da sustentabilidade foram agenciadas pelas forças da globalização, ocidentalização e desenvolvimento. Capturados, os ideários ecológicos revestem com novas cores e formas as tecnologias smart, a economia verde e o desenvolvimento sustentável para atenderem aos interesses econômicos neoliberais. Certificadas com selos verdes, as organizações são apresentadas pelo marketing como ecologicamente responsáveis e socialmente justas, sem deixarem de servir à sanha produtivista da sociedade do desempenho, de agregar valores a si mesmas e aos produtos por elas produzidos e comercializados, de reduzir os danos à imagem da marca no mercado e, assim, maximizar seus lucros. Cultivam, assim, o mal-estar civilizacional e a crise ecológica.

Leia o artigo completo no site da Revista e-metropolis.