O ensaio fotográfico “Cidade do Avesso”, de Maria João Gomes, Madalena Corte-Real e Marianna Monte, é um dos destaques da edição 23 da Revista e-metropolis. O ensaio apresenta registros de uma estética quase invisível em Lisboa. Fotografias que descortinam o inesperado, discreto e íntimo de uma poética presente no ordinário da vida. Relação silenciosa, implícita e tensa com a espetacularização urbana, mesclando urbano/rural, presente/passado.
O ensaio Cidade do avesso, de Maria João Gomes, Madalena Corte-Real e Marianna Monte, é um dos destaques da edição nº 23 da Revista eletrônica e-metropolis.
Cidade do avesso
Por Maria João Gomes, Madalena Corte-Real e Marianna Monte
Cada cidade, tal como cada ser humano, não se repete, é única.
Lisboa é única no território que ocupa e no modo como cresce, como acomoda e se acomoda a quem a usa. Ao longo do tempo, absorve os passos, as conversas, adapta-se a cada realidade nova que se lhe impõe insistindo em manter-se viva.
Dentro de Lisboa, mesmo dentro, o seu cerne são os espaços escondidos. Locais de escadas e marquises onde se estende a roupa, colocam-se as caixas do ar-condicionado e os tubos infindáveis dos restaurantes, locais de arrumos onde se guarda o que é feio mas porventura útil. Onde se esquece o que já serviu.
Espaços onde não se disfarça, onde se expõem as cicatrizes, os enxertos que adaptam brutalmente a cidade histórica ao presente. É o âmago do qual surgem os momentos gerados pela fusão de cada história programada ou casual de intervenção funcional no espaço.
É nesse avesso da cidade que subsistem resquícios de ruralidade; as couves, o pombal. Sons contrários à rua como o cantar do galo, a intimidade de um jantar entre amigos ou a discussão dos vizinhos. A casa estende-se e desvenda o ser e o estar dos que nela habitam.
Por inércia ou por esquecimento, os usos e as vivências sedimentam-se numa privacidade partilhada nas traseiras dos prédios, testemunho cumulativo da evolução de Lisboa e das narrativas sociais e culturais de quem a vive.
A cidade do avesso é um documento aberto, resguardado de quem a caminha mas olhado por tantos que fumam à janela num dia de inverno.
Acesse a edição nº 23 da Revista e-metropolis e veja o ensaio completo “Cidade do Avesso”.
Última modificação em 12-01-2016 18:43:48