A revista Cadernos Metrópole, um dos principais produtos do Observatório das Metrópoles, convida pesquisadoras e pesquisadores das diversas áreas de conhecimento, que abordam a questão urbana e regional, a enviarem artigos sobre o tema “As ambivalências e contradições das redes sociais”, referente à edição nº 55 (v. 24).
Com organização de Lucia Santaella, professora titular do Programa de Pós-Graduação em Comunicação e Semiótica da PUC-SP, o dossiê visa reunir trabalhos que exploram a multidimensionalidade e a complexidade das redes sociais.
As ambivalências e contradições das redes sociais
Organizadora: Lucia Santaella
A internet como mediadora das interações sociais teve início em meados dos anos 1990. Entretanto, de lá para cá, seu uso tem passado por transformações contínuas devido ao seu crescente desdobramento em motores de busca potentes, novas plataformas, aplicativos e, sobretudo, devido à proliferação de dispositivos móveis computadorizados. Não é por acaso que a Web passou a ser numerada para caracterizar suas diferentes fases como a Web 1.0 (Web dos sites e portais estáticos, de visitação), a Web 2.0 (Web interativa das redes sociais, dos blogs, das Wikis e dos equipamentos móveis), a Web 3.0 com seus filtros mais apurados para atender às buscas dos usuários e, hoje, a Web 4.0, com seus mais recentes incrementos, entre eles, a utilização de algoritmos de Inteligência Artificial para monitorar as postagens dos usuários.
Nas suas primeiras fases, a Web produziu muita euforia pelas promessas de democratização da comunicação graças aos seus lugares de participação para todos, suas formas emergentes de socialização, suas comunidades virtuais, trabalhos em equipe e primeiros buscadores. Foi também a fase dos movimentos sociais de rua dependentes de processos de contágio por meio das redes digitais (smartmobs). Entretanto, esse período de lua de mel não durou muito. Passo a passo, as redes começaram a entrar em uma fase de anticlímax, uma fase meio insana de postagens lacradoras, xingamentos e destilações de ódio especialmente em momentos de aquecimento político. O anticlímax acentuou-se de 2016 para frente, sob efeito da eleição de Trump, da vitória do Brexit, do escândalo do Cambridge Analytica e do Facebook pela venda de dados pessoais para propósitos eleitorais. Pouco depois, a disseminação de Fake News foi se tornando cada vez mais desmedida, em função da proliferação de bots, empresas que vendem perfis falsos de redes sociais dos quais se valem para a circulação de conteúdos que simulam, tanto na visualidade quanto nos mecanismos de interatividade, atividades dos usuários das redes. Com isso, acaba por se constituir uma verdadeira indústria de bots, um mercado clandestino destinado a aumentar o número de seguidores e de likes em determinadas contas para propagar mentiras.
Mais recentemente, as redes entraram decididamente no universo da inteligência artificial. Tudo que é postado nas plataformas das grandes empresas de tecnologia é manipulado por algoritmos capazes de desenhar de modo capilar o perfil de cada usuário em um processo inédito de vigilância e invasão da privacidade. Dois documentários sobre isso veiculados pela Netflix, Privacidade Hackeada (2019) e O dilema das redes (2020) potencializaram uma visão negativista e profundamente distópica das redes. Contudo, é preciso lembrar que as redes são muitíssimo mais complexas do que cabe em uma visão exclusivamente distópica. Hoje, nelas também convivem muitos outros benefícios como games e plataformas educativas, e-comércio, contextos geoespaciais etc.; convive ainda com o incremento da conectividade graças aos metadados semânticos; com a ubiquidade que permite a conexão de quaisquer recursos à Web de modo que os mais variados serviços podem ser utilizados em todos os lugares.
Tendo isso em vista, esta chamada convida autores a explorarem a multidimensionalidade das redes sociais para que panoramas mais fiéis à sua complexidade possam ser desenhados.
Data-limite para envio dos trabalhos: 30 DE NOVEMBRO DE 2021.
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