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Profa. Dra. Vera Lúcia Alves França¹
Profa. Dra. Sarah Lúcia Alves França²
Catarina Carvalho Santos Melo³

Recentemente, o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) divulgou uma prévia do Censo Demográfico, realizado em 2022. Embora os dados apresentados ainda sejam parciais, trazem algumas questões que suscitam reflexões.

No último período intercensitário, compreendido entre 2010 e 2022, a população sergipana apresentou um acréscimo de 143.837 habitantes, isto é, um crescimento relativo de 6,96%, demonstrando sua inserção na transição demográfica que vive o país, com redução da intensidade do aumento populacional.

Atualmente, o Estado de Sergipe conta com 2.211.868 habitantes, sendo que grande parte está concentrada na Região Metropolitana de Aracaju (RMA), formada pelos municípios de Aracaju, Barra dos Coqueiros, Nossa Senhora do Socorro e São Cristóvão, que abriga 935.028 habitantes, correspondendo a 42,27% do total. Instituída por lei, em 1995, a cada dia a RMA aumenta sua participação relativa no conjunto da população sergipana. A exemplo do que vem ocorrendo em outras regiões metropolitanas, o núcleo metropolitano, Aracaju, é o município com menor crescimento relativo (6,09%), fenômeno já observado em outras décadas, quando Nossa Senhora do Socorro e São Cristóvão destacaram maior crescimento. Diferente das décadas anteriores, Barra dos Coqueiros é o município com mais intensa tendência de crescimento da RMA (66,50%). As facilidades de acesso, após a construção da Ponte sobre o Rio Sergipe, em 2006, somadas às ações judiciais que limitam a ocupação de condomínios fechados na Zona de Expansão Urbana de Aracaju, contribuíram para a intensificação desse crescimento. Assim, o município passou a se constituir num forte vetor de expansão urbana, com a consequente valorização da terra e a instalação de inúmeros condomínios horizontais e verticais, além de loteamentos. O resultado tem sido a migração de muitas famílias aracajuanas, assim como de outros municípios e estados, como opção de novo estilo de vida ou de investimento imobiliário.

Outros municípios também merecem destaque: Itabaiana, com crescimento relativo de 19,13%, alcança a marca dos 103.620 habitantes, seguido pelo município de Lagarto, com aumento de 7,16%, totalizando 101.642 habitantes. Estes dois municípios têm apresentado uma dinâmica econômica diversificada com a presença de atividades industriais e comerciais. Certamente, a instalação de campus da Universidade Federal nesses dois municípios também contribuiu para intensificação da ampliação do número de habitantes, com a presença de alunos e funcionários oriundos de outros locais.

Em seguida, estão os municípios de Estância, Tobias Barreto, Simão Dias, Nossa Senhora da Gloria e Itabaianinha com população entre 40.000 e 64.000. Entretanto, Nossa Senhora da Glória ganha evidência com crescimento de 26,92%, bem acima do esperado. Com população entre 34.000 e 20.000 habitantes estão 13 municípios dentre eles, Itaporanga d’ Ajuda, Poço Redondo, Canindé de São Francisco, Boquim e Umbaúba.

No estado, predominam 23 municípios com população entre 10.000 e menos de 20.000 habitantes, estando dispersos em todas as áreas, a exemplo de Carira, Frei Paulo, Monte Alegre de Sergipe, Areia Branca, Campo do Brito, Japoatã e Pacatuba. Com população entre 5.000 e 10.000 habitantes estão 16 municípios, dentre eles, Riachuelo, Pirambu, Rosário do Catete, Graccho Cardoso, Cedro de São João e Santa Rosa de Lima. Por fim, 12 municípios apresentam população inferior a 5.000 habitantes, a exemplo de Amparo de São Francisco, Pedra Mole, General Maynard, São Francisco e Telha.

Mapa 1: Sergipe, População Absoluta, 2022.

Observa-se que 44 municípios apresentaram aumento de população sendo que, em termos absolutos, os municípios da Região Metropolitana de Aracaju, acrescidos de Itabaiana, foram aqueles com maiores ganhos. Entretanto, ao analisar os dados de forma relativa constata-se que apenas 16 municípios tiveram crescimento acima da média estadual. Dentre esses, Santa Rosa de Lima (95,82%), Barra dos Coqueiros (66,50%) e Nossa Senhora da Glória (26,92%), São Cristóvão (21,33%), Nossa Senhora do Socorro (19,61%) e Itaporanga d’ Ajuda (13,1%). É importante salientar que Nossa Senhora da Glória vem se consolidando como centro urbano no Sertão e tem, também, dinamizado suas atividades econômicas e educacionais com a criação de um campus da Universidade Federal. A presença de unidades industriais em Itaporanga d’Ajuda tem atraído novos moradores. Ainda causa surpresa o intenso crescimento da população no município de Santa Rosa de Lima de 3.752 habitantes em 2010, para 7.347 em 2022, carecendo de explicação para esse fenômeno (Mapas 2 e 3).

Mapa 2: Sergipe, Variação Relativa da População, 2022.

Mapa 3: Sergipe, Variação Absoluta da População, 2022.

Por outro lado, 31 municípios apresentaram redução de população, sendo que em alguns deles esse processo já vem ocorrendo em outros períodos. Santana de São Francisco (44,02%), Neópolis (11,13%), Propriá (6,36%), no Baixo São Francisco, além de Pedrinhas (16,19%) e Laranjeiras (10,78%) tiveram perdas mais significativas, especialmente o primeiro deles, que reduziu 3.098 habitantes, necessitando assim, de análises bem mais aprofundadas para apontar as questões pertinentes. Boquim, Japaratuba, Maruim, Tomar do Geru e Gararu também reduziram seus contingentes populacionais (Mapas 2 e 3).

Contudo, mesmo ainda em caráter preliminar, os dados revelam uma dinâmica populacional que reflete a economia estadual que, nos últimos anos, vem passando por dificuldades, seja em função dos últimos anos de pandemia da COVID-19 e, também, do arrefecimento das atividades da indústria extrativa mineral, que contribui com a redução de milhares de postos de trabalho.

Aguardemos os dados conclusivos que trarão maiores detalhes que, certamente, possibilitarão uma explicação mais clara da dinâmica populacional sergipana.


¹ Geógrafa, Professora Aposentada do Núcleo de Pós-graduação em Geografia da Universidade Federal de Sergipe, pesquisadora do Núcleo Aracaju do Observatório das Metrópoles.

² Arquiteta e Urbanista, Professora Adjunta do Departamento de Arquitetura e Urbanismo da Universidade Federal de Aracaju, coordenadora do Núcleo Aracaju do Observatório das Metrópoles, líder do Centro de Estudos de Planejamento e Práticas Urbanas (CEPUR).

³ Arquiteta e Urbanista pela Universidade Federal de Sergipe, pesquisadora bolsista do Núcleo Aracaju do Observatório das Metrópoles.