A multipropriedade é uma estratégia empresarial e tem sido um dos vetores de reprodução do espaço urbano litorâneo nas metrópoles nordestinas. Esta é uma modalidade de segunda residência de uso compartilhado, que desde sua aprovação na Lei nº 13.777, em 2018, vem registrando crescimento anual no número de projetos lançados e investimentos imobiliários por todo o país.
A dissertação de José Almir Ramos Maia Filho, que investiga o mercado imobiliário da multipropriedade, caracteriza a produção urbana e evolução das segundas residências no litoral nordestino, analisando o contexto multiescalar do timeshare (conceito original da multipropriedade), considerando os desdobramentos espaciais da referida atividade. A pesquisa traz também o debate sobre a financeirização no setor imobiliário, através do instrumento da multipropriedade e analisa as articulações e estratégias dos grupos vinculados ao setor na produção do espaço turístico.
Defendida em setembro de 2023, no âmbito do Programa de Pós-Graduação em Geografia da Universidade Federal do Ceará (PPPGEO/UFC), sob a orientação de Alexandre Queiroz Pereira (Núcleo Fortaleza) e coorientação de Marilia Natacha de Freitas Silva, a dissertação avançou nos estudos sobre a produção de espaços turísticos, considerando a vertente da multipropriedade e através de metodologia cartográfica, espacializa os empreendimentos dessa modalidade a nível nacional e regional, com o auxílio de relatórios do setor imobiliário, contribuindo para pensar as práticas espaciais que justificam a inserção dos projetos.
Confira a apresentação dos principais pontos do trabalho:
A que pergunta a sua pesquisa responde?
Quais são os agentes e as estratégias de produção do espaço turístico litorâneo a partir do advento da multipropriedade?
Por que esta pesquisa é relevante?
É importante colocar em evidência esta estratégia de produção imobiliária e investigar de qual forma esse novo tipo de modalidade impactará as localidades onde estão inseridas. A pesquisa sobre a atividade imobiliária via multipropriedade em destinos turísticos, traz uma contribuição aos estudos relacionados à urbanização litorânea e permitirá o desenvolvimento de novas pesquisas, em outras abordagens, considerando o número limitado de estudos sobre o tema.
Qual o resumo da pesquisa?
O objetivo desta pesquisa é analisar o contexto e as estratégias na produção de espaços turísticos a partir dos Complexos Turísticos Residenciais de multipropriedade. Os procedimentos teórico-metodológicos da pesquisa se articulam a partir da investigação da produção do espaço urbano litorâneo e caracterização das práticas marítimas modernas, com ênfase nas segundas residências. Em seguida, há a caracterização do timeshare, conceito originário da atividade da habitação compartilhada, em suas origens e consolidação, a partir de consulta e análise de estudos sobre a temática em escala internacional, bem como a expansão atual da multipropriedade a nível nacional. Para tal, conta-se com o auxílio de relatórios do setor imobiliário, servindo para o rastreamento dos projetos, dos principais grupos envolvidos e suas estratégias, além da caracterização das práticas espaciais que justificam a inserção desses empreendimentos. Por fim, investiga-se a financeirização do setor imobiliário e a relação do mercado financeiro com os grupos imobiliários na produção de espaços turísticos. Pode-se constatar que os investimentos públicos e os interesses dos grupos imobiliários, ao desenvolverem projetos residenciais no modelo da multipropriedade, se beneficiam das práticas de lazer pré-existentes, a variar conforme a região analisada, o que evidencia o potencial turístico dessas localidades e objetiva atrair novos fluxos, culminando na transformação desses espaços.
Quais foram as conclusões?
O processo espacial em curso é resultado de uma relação direta entre o mercado imobiliário-turístico e o mercado financeiro. Essa relação, comum na atual acumulação capitalista, controla os rumos da produção e as transformações no espaço. Tal processo, ainda em evolução, desencadeia a formação de novos territórios, a partir da produção espacial de imóveis turísticos compartilhados, que tem por principal característica o protagonismo e a articulação dos grupos financeiros e imobiliários, suscitando na formação de enclaves turísticos e contradição entre os grupos sociais presentes.
Atualmente, percebe-se um vetor de expansão dos investimentos e de novos projetos de multipropriedade em direção ao Nordeste, com a tendência de localização litorânea dos empreendimentos, aproveitando das rugosidades do processo de turistificação e metropolização.
Quem deveria conhecer seus resultados?
Público em geral, integrantes da administração pública e pesquisadores das áreas da urbanização litorânea, turismo e financeirização.
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