isbn | 9786587594125
A financeirização na longa duração: dinheiro, tempo e poder
Ao menos desde a crise de 2007-9, foram amplamente difundidos o conceito e as teses da financeirização, quer dizer, os discursos que conformam um campo de reflexão ao redor desse conceito. A pesquisa que originou esta tese foi conduzida, em primeiro lugar, como uma revisão das teses da financeirização. Ela nasceu do relativo incômodo a respeito do modo como esse conceito vêm sendo incorporado nas pesquisas urbanas e da necessidade de defini-lo com maior precisão. Portanto, seu objetivo geral é o de contribuir com a organização, a sistematização e a análise crítica do debate sobre esse conceito, com especial interesse em suas implicações para os estudos urbanos.
Se é verdade que o apelo crescente ao conceito de financeirização encorajou, promoveu e facilitou as reflexões acerca dos atributos do capitalismo contemporâneo, esse é um conceito, como qualquer outro, cujos limites precisam ser identificados e problematizados. Aqui, consideram-se os seguintes limites principais: i) a pouca atenção dedicada à teoria do dinheiro no âmbito das teses da financeirização, ao menos quando comparada com a genérica referência à dominância financeira ou das finanças; ii) o “presenteísmo” típico dessas mesmas teses, isto é, a tendência que sublinha a novidade histórica da financeirização; e iii) a negligência dessas teses em relação às questões do poder e da hegemonia, em outras palavras, a ênfase na lógica capitalista em detrimento da lógica territorialista do poder. Recorrendo, principalmente, às teorias do dinheiro e do crédito de Marx e à articulação dos aportes teóricos de David Harvey e Giovanni Arrighi, esta tese resultou em um conjunto de proposições teóricas, dentre as quais se destaca, por exemplo, a ideia dos ciclos sistêmicos de urbanização. Proposições que ora reforçam, ora questionam e oferecem alternativas às perspectivas que predominam no campo dos estudos urbanos, sobretudo aos argumentos de inspiração regulacionista. Nesse aspecto em particular, adotando-se um viés de longa duração, questiona-se, especialmente, a hipótese da existência de um novo regime de acumulação financeirizado ou com dominância financeira. Ao mesmo tempo, sublinham-se as relações de poder e o nexo Estado-finanças constitutivos da financeirização.
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