O 19º Congresso da Sociedade Brasileira de Sociologia, que será realizado na Universidade Federal de Santa Catarina entre os dias 09 e 12 de Julho de 2019, tem como objetivo abordar a emergência de uma pluralidade de novos fenômenos sociais, econômicos, políticos e culturais que se manifestam na sociedade brasileira e em outras partes do mundo, em distintos ritmos e configurações.
Estes fenômenos perpassam tanto o espaço público das sociedades contemporâneas quanto o processo das subjetividades. O 19º Congresso da SBS pretende focar os diversos desafios teóricos, conceituais e metodológicos para a investigação sociológica diante das transformações que estão ocorrendo em diferentes planos da vida social contemporânea.
Como compreender a sociedade brasileira no quadro global contemporâneo? Na medida em que os níveis local, nacional e global se articulam de formas variadas, a investigação da realidade brasileira e/ou de outras sociedades nacionais, indica a pertinência de um olhar sociológico ampliado e transnacional. Diversas questões da conjuntura política brasileira intercalam com a problematização da democracia representativa que vem se manifestando em diversos contextos nacionais. O retraimento do Estado em várias partes do mundo amplia o espaço do mercado como um dos definidores relevantes das condições de vida, ao mesmo tempo que demandas por reconhecimento e igualdade se ampliam em escala global. Nesse contexto, qual a contribuição empírica, conceitual e teórica que a sociologia brasileira pode oferecer para a compreensão da sociedade brasileira contemporânea e para o desenvolvimento intelectual da própria disciplina?
Como compreender sociologicamente o tempo atual, que ao que tudo indica é marcado por relações contingentes entre diferentes esferas da vida social e que turva a busca de determinados eixos que, eventualmente, poderiam estruturar as sociedades contemporâneas? Como analisar as sociedades nacionais, nas quais economia, política e cultura – embora mantenham conexões – seguem em diversas ocasiões suas lógicas específicas e assumem direções não necessariamente convergentes? Como lidar no plano explicativo da sociologia com este cenário?
No contexto da globalização, surge uma série de novos fenômenos transfronteiriços tais como tendências às crescentes migrações internacionais, processo de desterritorialização de eventos políticos, econômicos e acadêmicos, presença de um capitalismo global e formação de um mercado financeiro mundial que produz novas formas de desigualdades entre regiões e países. Paralelamente, surgem novos mecanismos de poder e de dominação, que são mais opacos em relação às épocas nas quais os espaços de demarcação dos conflitos sociais assumiam maior transparência. O processo de produção da sociologia aponta também para a existência de novos mecanismos de poder no espaço internacional da disciplina: como avaliar o alcance teórico de novas abordagens (sociedade mundial, múltiplas modernidades, pós-colonialismo, modernidade periférica e global, etc), diante de relações assimétricas existentes no interior do espaço internacional da sociologia e ante as transformações sociais recentes?
Como enfrentar sociologicamente a existência de uma crise da democracia em várias sociedades nacionais, expressa pelo decréscimo da confiança nas instituições políticas existentes, pela tendência de esgotamento de modelos de representação e participação verticalizados, pela queda do apelo de partidos políticos tradicionais, pelo crescente abismo entre elites políticas e suas respectivas populações? Como analisar a presença das redes informacionais e sociais que impactam nos debates públicos, criando novas modalidades de participação política? A busca de modelos supranacionais de ordenamento político convive com novas modalidades de discriminação social e a irrupção de novas modalidades de nacionalismos e fundamentalismos em escala internacional. A ambivalência destes processos coloca para a sociologia o desafio de articular o social e o político, bem como política e subjetividade, projetando a questão das diferentes manifestações do poder para o centro da reflexão sociológica.
Ao mesmo tempo, têm aflorado diversos fenômenos que apontam para a existência de uma vida em sociedade plena de engajamentos. Neste contexto, surgem múltiplos movimentos sociais com pautas distintas, utilizando novas linguagens, incluindo em suas agendas problemas de exigências morais, voltados para atos de reparação e reconhecimento social, tais como os direitos de imigrantes, refugiados, de minorias sociais, de movimentos de solidariedade e/ou de intervenção humanitária, ao lado de movimentos que lutam por reivindicações políticas e econômicas.
A relativa diferenciação e pluralidade da vida social propicia a possibilidade de que parcelas de indivíduos e/ou de grupos projetem suas reivindicações de reconhecimento de diferenças tais como as demandas feministas, homossexuais, GLT, povos originários, mas também de grupos etários (idosos), pessoas com deficiências, etc, que têm problematizado determinadas concepções universalistas. Transformações nas relações sociais cotidianas politizam o que já foi compreendido como esfera privada. As múltiplas orientações culturais coletivas e pessoais constitutivas destas reivindicações que trilham caminhos próprios colocam em tela a capacidade dos sujeitos de agirem sobre si mesmos e sobre suas sociedades, cujos desdobramentos históricos permanecem uma questão em aberto. Estes fenômenos desafiam a sociologia a observar com novas categorias analíticas as relações entre afirmações de direitos dos sujeitos e/ou de grupos – institucionalizados ou não – diante de diversas modalidades de dominação.
O 19º Congresso da SBS deseja constituir um espaço intelectual estimulante para discutir o surgimento de uma pluralidade de novos fenômenos na sociedade brasileira e em outras partes do mundo. Visa também estimular uma reflexão sobre a pertinência de rever e/ou reelaborar os dispositivos teóricos, conceituais e metodológico da sociologia para analisar as transformações que vêm ocorrendo no pais e em escala global. As diversas questões que o 19º Congresso deseja abordar – certamente, aberto a novas sugestões dos seus participantes – mantêm relação com Congresso anterior, no sentido de incentivar a prática de uma sociologia da sociologia, ou seja, uma sociologia que repense a si mesma de forma recorrente, como uma condição fundamental para preservar sua centralidade cognitiva como um poderoso instrumento de compreensão e transformação das sociedades nas quais se encontra presente.
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