O processo de urbanização das metrópoles tem gerado, em todo o mundo, desigualdade de renda e uma forte concentração geográfica da riqueza e da pobreza nos territórios. Partindo desse pressuposto, o professor Sérgio Luiz Bassanesi, do Departamento de Medicina Social/UFRGS, desenvolveu, pela primeira vez no Brasil, o estudo Segregação Urbana e Saúde em Porto Alegre, mostrando a interdependência entre os indicadores socioeconômicos, indicadores de saúde e a segregação espacial na cidade.
A pesquisa contou com a colaboração dos pesquisadores Michael Marmot e Tarani Chandola, da University College London (UCL-Inglaterra), onde o professor Sérgio Bassanesi desenvolveu o seu pós-doutorado em 2009, abordando o tema da saúde urbana cujo conceito está relacionado ao modo como a cidade se organiza para oferecer condições de reprodução e vida à população. Dentre os objetivos do estudo estavam a medição e a descrição da segregação urbana de Porto Alegre, usando para tanto uma série de novos indicadores de segregação que levam em conta a distribuição espacial da população e que permitem o cálculo de indicadores locais de segregação ao nível dos bairros da cidade.
O estudo também objetivou a descrição de indicadores de saúde (incidência de doenças infecciosas, mortalidade decorrente de doenças crônicas e por causas externas) e a descrição de fatores socioeconômicos, além da análise das interrelações entre todos estes fatores.
“A nossa hipótese parte da ideia de que cidades menos segregadas territorialmente são mais saudáveis. Isso porque não é apenas a pobreza que é causa de doenças, é a pobreza mais a segregação espacial. As pessoas das classes mais baixas estão separadas de forma compulsória na cidade, vivendo em locais frequentemente insalubres – com deficiências no saneamento básico, expostas à violência, ao risco de alagamentos etc – como também em locais carentes de infraestrutura urbana – metrô, hospitais, escolas de boa qualidade”, explica Bassanesi e completa: “A saúde aqui tem relação direta com as políticas públicas para a cidade, se as ações são mais democráticas ou geradoras de mais desigualdade”.
Análise dos indicadores
Para o levantamento do padrão de segregação da população de Porto Alegre, o trabalho usou como base os indicadores desenvolvidos pela pesquisadora Flávia Feitosa, do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE), que são os Índices de Exposição Espacial, Índice de Isolamento Espacial (variáveis explanatórias), além da co-variável renda. “Para este estudo, desenvolvemos também um Índice de Agrupamento Espacial que nos deu em cada bairro a proporção de setores censitários de baixa renda que são cercados por outros setores censitários também de baixa renda”, elucida o professor.
Em relação à co-variável renda (distribuição dos bairros segundo a renda do chefe do domicílio), Bassanesi explica que o objetivo era investigar se a segregação tinha um efeito além da renda. “Ser pobre está associado à doença, e ser segregado espacialmente também gera doença, são causas que se somam”.
Os indicadores socioeconômicos foram relacionados a indicadores de saúde, tais como i) Incidência de tuberculose (doenças infecciosas); ii) Mortalidade por causas externas (violência); iii) Mortalidade cardiovascular precoce (doenças crônicas); iv) Mortalidade geral.
Conclusões
A pesquisa verificou que existem bairros em Porto Alegre onde todos os indicadores socioeconômicos são bons e os indicadores de saúde (incidência de doenças infecciosas e mortalidades) apresentaram as menores taxas. Nesses locais, praticamente não há presença de populações de baixa renda. Em oposição, os bairros mais pobres da capital do Rio Grande do Sul apresentaram os piores níveis de indicadores de saúde, e os maiores índices de segregação espacial – bairros cercados por outros bairros de baixa renda, com carência de infraestrutura e piores condições de vida.
“A conclusão que chegamos é que Porto Alegre é uma cidade segregada territorialmente. Os dados sugerem que a segregação econômica é ruim para os bairros onde a população mais pobre predomina e boa para os bairros onde a população mais rica predomina. E que esses efeitos independem da simples média de renda, isto é, ter baixa renda e ser segregado tem efeitos cumulativos”, argumenta o pesquisador.
Parceria Observatório das Metrópoles
A pesquisa pioneira do professor Sérgio Bassanesi será desdobrada a fim de investigar a saúde urbana nas metrópoles brasileiras. O Departamento de Medicina Social – Grupo de Pesquisa e Extensão em Saúde Urbana – da Universidade Federal do Rio Grande do Sul acaba de integrar-se à rede de pesquisadores do Observatório das Metrópoles.
O grupo de Bassanesi passa a orientar as pesquisas sobre saúde com enfoque nas grandes cidades do País. Um trabalho que já está sendo desenvolvido trata da segregação urbana e da saúde na região metropolitana de Porto Alegre. “Nós também estamos coordenando uma pesquisa em 15 capitais brasileiras, com o propósito de mostrar que a segregação do território tem relação direta com a saúde e as condições de vida da população”, conclui.
Para ver a pesquisa completa Segregação Urbana e Saúde em Porto Alegre clique aqui.