O Fórum Grita Baixada promoveu o pré-lançamento, no dia 3 de setembro de 2016, do Relatório “Um Brasil dentro do Brasil pede Socorro”, um documento que analisa o histórico de violência na região da Baixada Fluminense desde a década de 1960 e afirma que relatos de moradores apontam a migração de criminosos e o agravamento da violência depois da implantação das Unidades de Polícia Pacificadora em áreas da capital.
O Relatório “Um Brasil dentro do Brasil pede Socorro” é assinado por entidades de defesa dos direitos humanos, Defensoria Pública do Estado do Rio de Janeiro, políticos e personalidades que denunciam a omissão do poder público com a violência na Baixada Fluminense e pede atenção internacional ao problema.
Os dados divulgados pelo Instituto de Segurança Pública do Rio de Janeiro para o mês de julho de 2016 mostram que 28,8% dos homicídios ocorridos no estado naquele mês foram em três áreas de batalhões da Baixada. Dos 368 homicídios dolosos registrados, 45 foram em Nova Iguaçu, Mesquita e Nilópolis, 31 em Seropédica, Itaguaí, Paracambi, Queimados e Japeri, e 30 em Duque de Caxias.
Segundo o relatório, o problema se soma à expansão de grupos de milicianos na região, gerando confrontos constantes por territórios entre esses grupos e com a Polícia Militar. O documento vai ganhar uma versão em inglês nos próximos dias, que deve ser distribuída a entidades internacionais e jornalistas estrangeiros.
Moradores têm medo
O coordenador da Defensoria Pública do Estado do Rio de Janeiro na Baixada Fluminense, Antônio Carlos de Oliveira, acredita que existe na sociedade e no poder público uma cultura de encarar como normais os graves problemas enfrentados pela região.
“Vê-se como uma coisa comum da própria Baixada. Temos esse tipo de afirmação de que a Baixada Fluminense é violenta, que é assim mesmo. Mas não pode ser assim mesmo”, conta ele, que afirma ter dificuldades de prestar assistência a famílias de vítimas por se deparar com pessoas que perderam a crença no poder público e convivem com medo de retaliações.
“A população fica aterrorizada e não quer se expor de jeito nenhum”, diz ele, que acrescenta: “Há pessoas que não reconhecem o poder público e pararam de dar a ele legitimidade. Isso é muito grave”.
O documento propõe algumas medidas urgentes para fazer frente aos problemas, como a criação de um programa de redução de homicídios específico para a Baixada Fluminense e um monitoramento territorializado dos homicídios na região. Os autores afirmam que é necessário reforçar o contingente das delegacias e batalhões da região, mas também formar uma polícia cidadã que tenha foco na proteção da vida.
É pontuada a necessidade de fortalecer políticas que promovam protagonismo na juventude e o aumento da presença dos serviços públicos nas áreas em que o problema é mais grave. A participação social é reivindicada por meio da proposta de criação de Conselhos Municipais de Segurança Pública em todos os municípios.
Em nota, a Secretaria Estadual de Segurança Pública do Rio de Janeiro informa que a Baixada recebeu mais 400 policiais militares a partir de julho com a retomada do pagamento das horas-extras (Regime Adicional de Serviço) e que operações policiais têm feito revistas em veículos na região metropolitana e na Região dos Lagos para capturar criminosos.
“Outras medidas importantes são a utilização dos índices divulgados pelo Instituto de Segurança Pública (ISP) para auxiliar na criação de políticas públicas de segurança e no acompanhamento do Sistema de Metas e Acompanhamento de Resultados (SIM); o fornecimento de carabinas.40 como alternativa do uso do fuzil calibre 762; a criação do Centro de Formação do Uso Progressivo da Força; e a criação das Delegacias de Homicídios da Capital, Baixada Fluminense e Niterói, São Gonçalo e Itaboraí”, finaliza a nota.
Mais informações no site do Fórum Grita Baixada.
Publicado em Notícias | Última modificação em 07-09-2016 19:12:23