Imagem ilustrativa população nas grandes cidades
Nos últimos anos, tornou-se comum no Brasil ler a respeito da chamada “nova classe média brasileira”, a já famosa “classe C”. Ao longo desse período verificou-se a disputa entre a perspectiva sociológica, mais estrutural, e a perspectiva econômica, mais focada nos rendimentos, para definição dessa nova classe média. Neste artigo André Salata, do INCT Observatório das Metrópoles, busca contribuir para o debate atual sobre o tema, tendo como foco as identidades de classe e percepções dos brasileiros sobre a sua posição socioeconômica. Afinal, quem se identifica, e é por sua vez reconhecido como classe média no Brasil?
O artigo “Quem é Classe Média no Brasil? Um Estudo sobre Identidade de Classe”, de autoria do pesquisador André Salata, foi publicado originalmente na Revista Dados (v. 58 nº 1, Rio de Janeiro jan/mar. 2015), com o objetivo de ampliar o debate sobre o tema da classe média no Brasil.
André Ricardo Salata é pesquisador da Rede Nacional INCT Observatório das Metrópoles e atualmente é professor da Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUC-RS). Ele desenvolveu estudos com ênfase em Estratificação Social e Desigualdades, atuando principalmente com metodologia quantitativa.
A seguir a Introdução do artigo “Quem é Classe Média no Brasil?”. O texto completo está disponível na página da Revista Dados.
INTRODUÇÃO
POR ANDRÉ SALATA
Nos últimos anos, tornou-se comum no Brasil ler, ouvir e discutir a respeito da chamada “nova classe média brasileira”, a já famosa “classe C”. O debate sobre esse tema foi impulsionado primeiramente pela publicação dos resultados de uma pesquisa da Fundação Getulio Vargas (FGV), coordenada pelo economista Marcelo Neri, na qual se afirmava que em 2008 o Brasil havia se tornado um “país de classe média”. Tal conclusão decorria da constatação de que entre os anos de 2003 e 2008, devido aos então recentes avanços socioeconômicos do país (Barros et al., 2010), a maior parte da população brasileira já se encontrava na camada intermediária de renda–a “classe C”.O estudo da FGV (Neri, 2008) chamava a atenção para o fato de que nos últimos anos milhares de indivíduos e famílias, que antes se encontravam nas camadas inferiores da escala de distribuição de renda, haviam atingido os níveis intermediários e, dessa maneira, foram identificados por Neri (ibidem:5) como a “nova classe média brasileira”, cuja emergência teria permitido ao Brasil tornar-se “um país de classe média”1.
A pesquisa da FGV lançou luzes sobre uma grande transformação socioeconômica que, de fato, tem estado em curso na sociedade brasileira nos últimos anos. Entre 2002 e 2008, milhares de indivíduos e famílias obtiveram aumentos substantivos em seus rendimentos e, como consequência, houve um crescimento importante de seu poder de consumo2. Essas pessoas atingiram níveis de rendimentos intermediários e passaram a fazer parte da camada da população que mais se assemelha ao “brasileiro mediano” – não somente em termos de renda, mas também no que se refere à educação, ocupação etc.3 Baseando-se neste fato, Neri (2008)denominou essa camada social de “classe média no sentido estatístico”.
Iniciada, portanto, com a publicação dos resultados da pesquisa da FGV (Neri, 2008) e posteriormente seguida por autores como Souza e Lamounier (2010), a “tese da nova classe média brasileira”, apesar de seu enorme sucesso nos meios de comunicação de massa (foram muitas as reportagens em jornais impressos, na internet, rádio e televisão a respeito da “classe C”) foi fortemente criticada por alguns autores (como por exemplo, Souza, 2010;Sobrinho, 2011). As críticas, que em geral provinham do campo da sociologia, tinham como principal alvo o critério adotado por Neri (2008) para definir a “classe média” – somente a renda –, sob o argumento de que, segundo outras características, como categorias ocupacionais (Sobrinho, 2011; Pochman, 2012) e/ou capital cultural (Souza, 2010), aquele contingente de pessoas não poderia ser considerado “classe média”. Na esteira desse tipo de argumentação, também publicamos alguns trabalhos problematizando a tese da “nova classe média brasileira” pelo prisma sociológico (Scalon e Salata, 2012; Salata, 2012).
Em nossa opinião, a polêmica entre a perspectiva sociológica, mais estrutural, e a perspectiva econômica, mais focada nos rendimentos, deve ser aprofundada, e pode gerar resultados interessantes. No entanto, o empenho em desenvolver o presente trabalho surgiu da percepção de que, para além do embate entre essas duas perspectivas, outra importante disputa tem sido travada desde a divulgação da pesquisa da FGV. Trata-se de um embate que não poderia ser compreendido nem pelo prisma econômico de Neri (2008), nem pela perspectiva sociológica que o vinha criticando (Sobrinho, 2011; Souza, 2010; Scalon e Salata, 2012).
Referimo-nos a uma grande discussão a respeito da própria definição da classe média brasileira. Afinal, quem se identifica, e é por sua vez reconhecido como classe média no Brasil? Essa é a questão principal que trataremos no presente artigo. Assim, apesar de reconhecermos a importância do debate a respeito das vantagens e desvantagens de utilizar diferentes critérios e variáveis – como ocupação ou renda – para a análise das desigualdades econômico-sociais, não temos, nesse trabalho, a intenção de tomar uma posição nesta discussão4. Para além dela, procuraremos chamar a atenção para a importância de analisar como os próprios indivíduos percebem sua posição socioeconômica.
Para examinar essa questão, usaremos metodologia quantitativa que será detalhada mais adiante. Antes de apresentar a análise empírica, faremos, na próxima seção, alguns breves comentários a respeito da literatura recente sobre identidades de classe.
Acesse o artigo completo “Quem é Classe Média no Brasil? Um Estudo sobre Identidade de Classe” no link a seguir da página daRevista Dados.