O INCT Observatório das Metrópoles promove o lançamento do livro “Arranjos Urbanos-Regionais no Brasil: uma análise sobre Curitiba”, da pesquisadora Rosa Moura. O trabalho identifica e conceitua a categoria espacial dos arranjos urbanos-regionais, mostrando que são unidades concentradoras de população, infraestrutura científico-tecnológica, relevância econômico-social e forte articulação regional, extrapolando a cidade enquanto forma física delimitada pelo espaço construído e contínuo, incorporando formas nem sempre contínuas de aglomerações urbanas mais extensas. A análise joga luz sobre o arranjo urbano-regional de Curitiba, e debate a dinâmica de urbanização no Paraná, a conformação da rede de cidades, os fluxos decorrentes da circulação de mercadorias e acesso a serviços, e os movimentos pendulares.
O livro é resultado da tese homônima defendida pela pesquisadora Rosa Moura, no Programa de Pós-Graduação em Geografia da Universidade Federal do Paraná, com orientação da profª Olga Lúcia C. de F. Firkowski, coordenadora do Núcleo Regional Curitiba da Rede Observatório das Metrópoles.
O trabalho é uma relevante contribuição para identificação e conceituação de uma categoria espacial não contemplada pela literatura especializada: a dos arranjos urbano-regionais. De acordo com Moura, os arranjos são unidades concentradoras de população, relevância econômico-social e infraestrutura científico-tecnológica. Possuem elevada densidade urbana, forte articulação regional, e extrema complexidade, devido à multiplicidade de fluxos multidirecionais de pessoas, mercadorias, conhecimento e de relações de poder que perpassam seu interior.
Constituem unidades de alta produtividade e renda, dadas as atividades intensivas em conhecimento e tecnologia, tendo como segmentos estruturadores os mais modernos da indústria de transformação, ou funções terciárias superiores. Caracterizam-se, fundamentalmente, pela multiplicidade escalar, que é elemento ao mesmo tempo potencial e complexo para o desempenho de ações articuladas, práticas de cooperação e união na busca do desenvolvimento e da solução de problemas comuns.
Além disso, segundo o estudo, os arranjos urbano-regionais respondem por atividades diversificadas, operando como espaços receptores e difusores de decisões e capitais, e participando de modo mais integrado nos âmbitos estadual, nacional e internacional, como os principais elos na divisão social do trabalho. Frutos do processo de metropolização contemporâneo que manifesta espacialmente o modelo de desenvolvimento vigente, marcam-se como focos concentradores, que se firmam como os principais centros na rede urbana. “Mais que morfologias, configuram-se em polos da diversificação produtiva e da diversidade social, potencializando sua capacidade multiplicadora e aceleradora de fluxos e dinâmicas, e sua condição propícia como localizações privilegiadas à reprodução e à acumulação do capital”, aponta Moura.
Paradoxalmente, os arranjos urbano-regionais concentram também elevados volumes de pessoas pobres, de déficits e carências, majoritariamente nos municípios de maior porte e com indicadores de melhor desempenho econômico e social, além de que se avizinham de municípios que desempenham atividades tradicionais, esses mais distantes das infraestruturas disponíveis e menos integrados às dinâmicas principais dos respectivos arranjos. Assim, são assimétricos quanto aos elementos constitutivos e em suas configurações espaciais, com distintos níveis de integração entre municípios e segmentos, porém, a despeito das desigualdades internas, os arranjos urbano-regionais são propulsores da economia dos respectivos estados e regiões, refletindo o padrão concentrador do modo de produção.
Morfologicamente, absorvem em uma unidade espacial, contínua ou descontínua, centros urbanos e suas áreas intersticiais urbanas e rurais – um rural transformado. Mais que isso, em seu processo de expansão estreitam relações e dividem funções com aglomerações vizinhas, que incorporam a essa unidade, em extensões com raios de aproximadamente 200 km, propiciando vínculos com arranjos singulares e outras aglomerações mais distantes, estendendo sua influência para além dos limites estaduais. Sua constituição corresponde às dinâmicas mais intensas e mais complexas comparativamente a outras porções do território, caracterizando-se como formações que transcendem o padrão das aglomerações urbanas, com uma constituição simples de polo e periferias, alcançando uma escala urbana mais complexa e uma dimensão regional.
Ou seja, os arranjos urbano-regionais extrapolam a cidade enquanto forma física delimitada pelo espaço construído e contínuo, incorporando formas nem sempre contínuas de aglomerações urbanas mais extensas, dificultadas no exercício de funções públicas de interesse comum a mais de um município; ao mesmo tempo, assimilam a perspectiva da região, ao polarizarem diretamente um território que transcende o aglomerado principal e que aglutina outras aglomerações e centros das proximidades, como também espaços rurais, assumindo uma multidimensionalidade e uma transescalaridade que demarcam seu caráter complexo, em uma configuração híbrida entre as noções do urbano e do regional; e funcionam ainda como polos regionais, respondendo por impulsionar e difundir o desenvolvimento.
Essa forma espacial ampliada dos arranjos urbano-regionais beneficia-se das possibilidades de comunicação, que viabilizam a expansão contínua e descontínua da área urbana, reforçam os fluxos internos e ampliam os externos. Contrariam as teorias quanto aos efeitos deslocalizadores e desconcentradores das novas tecnologias, mantendo insuperado o papel da aglomeração e da proximidade, reforçado pela ação do Estado, em sua lógica de relações e de expansão física, pelas externalidades urbanas. Manifestam, pois, a tendência ao reforço da concentração regional, acompanhando a dinâmica mundial de favorecimento às localidades melhores servidas aos requisitos da economia global, que tornam mais concreta a ação conjunta de atores globais ou globalizados, facilitando a produção, circulação, distribuição e informação corporativas, produtos exportáveis, assim como atividades especulativas, o que leva à ampliação de sua dinâmica diferenciada.
São formados e moldados por elementos naturais e históricos, em processos relativos à apropriação e uso do território, repletos de ideologias, que influenciaram as referências técnicas que ressaltam sua caracterização e ampliam suas possibilidades. Por assim dizer, refletem processos passados e criam as condições para processos futuros.
Faça o download, no link a seguir, do livro “Arranjos Urbanos-Regionais no Brasil: uma análise sobre Curitiba”, da pesquisadora Rosa Moura.
Publicado em Publicações | Última modificação em 18-08-2016 18:09:03