Bem-estar urbano em Belo Horizonte: desigualdade polo-periferia
Rejane de Oliveira Nazário tece uma análise do “Índice de Bem-estar Urbano Local” para a região metropolitana de Belo Horizonte e denuncia a manutenção de um padrão desigual de recursos pela metrópole, sendo o polo altamente dotado de recursos e as periferias, com evidente sobreposição de carências, sobretudo em áreas conurbadas com Belo Horizonte e caracterizadas como locais de moradia da população mais pobre. No caso das disparidades internas aos municípios, as mais extremadas são registradas em BH, território que detém áreas extremamente precárias em diversas dimensões do IBEU muito próximas a áreas de elevada qualidade de vida urbana.
Com o propósito de dar continuidade à campanha “Pelo bem-estar urbano” o Observatório das Metrópoles começa a divulgar uma série de textos analíticos com os resultados do IBEU Local. A iniciativa visa oferecer informações para que atores governamentais e sociedade civil em geral possam debater e implementar mecanismos de governabilidade em seus territórios.
A campanha teve início no dia 21 de agosto de 2013 quando o instituto lançou o livro “Índice de Bem-estar Urbano – IBEU” cujo propósito é avaliar a dimensão urbana do bem-estar usufruído pelos cidadãos brasileiros promovido pelo mercado, via o consumo mercantil, e pelos serviços sociais prestados pelo Estado. Por meio do índice é possível analisar indicadores de mobilidade urbana; condições ambientais urbanas; condições habitacionais urbanas; atendimento de serviços coletivos urbanos; infraestrutura urbana para os 15 grandes aglomerados urbanos que o INCT Observatório das Metrópoles identificou em outros estudos como as metrópoles brasileiras, por exercerem funções de direção, comando e coordenação dos fluxos econômicos.
A seguir o texto analítico “O IBEU da Região Metropolitana de Belo Horizonte (RMBH)”, de Rejane de Oliveira Nazário, mais uma contribuição do instituto para o debate sobre as condições de vida nas grandes metrópoles brasileiras.
O IBEU da Região Metropolitana de Belo Horizonte (RMBH)
Rejane de Oliveira Nazário
Na dimensão de mobilidade urbana (D1) a maioria das áreas de ponderação da RMBH encontra-se em situação, no mínimo, satisfatória. Contudo, parte considerável encontra-se em situação bastante precária visto que 46 áreas estão enquadradas no intervalo abaixo de 0,500, o equivalente a 24,4% da área urbana analisada.
Conforme é possível observar no mapa acima da mobilidade na região metropolitana, os melhores resultados se espalham entre o polo (Belo Horizonte) e vários pontos isolados, atingindo os municípios de Mateus Leme, Matozinhos, Nova Lima, Itaguara, Confins, Itatiaiuçu, Taquaraçu de Minas, Rio Manso e Florestal. Enquanto os piores se concentram em pontos específicos da região metropolitana, sobretudo em áreas de conurbação entre Belo Horizonte e os municípios de Ribeirão das Neves, Esmeraldas, Vespasiano, Santa Luzia, além de pontos de divisa municipal em Contagem, Ibirité e Sarzedo. Nesse sentido, Ribeirão das Neves aparece como município concentrador de precariedade e Belo Horizonte se desponta como município representante da desigualdade intraurbana, já que possui uma quantidade relativamente semelhante de áreas classificadas no melhor e no pior índice da dimensão mobilidade urbana do IBEU.
A RMBH na dimensão de condições ambientais urbanas (D2) não possui nenhuma área com resultado abaixo de 0,500. Além disso, como a maior parte das áreas de ponderação localizam-se nos dois níveis superiores do índice, essa dimensão é a segunda a apresentar os melhores resultados, posição superada apenas pela dimensão de atendimentos coletivos urbanos.
Acima, o mapa das condições ambientais urbanas revela que os piores resultados estão nos municípios de Santa Luzia, Ribeirão das Neves, Esmeraldas, Contagem, Betim, Ibirité e Sarzedo, sobretudo em áreas de limite municipal. No mesmo sentido, em Belo Horizonte, os piores resultados estão na divisa com os municípios de Nova Lima e Sabará, destoando completamente dos elevados resultados alcançados pelas demais áreas. Entre as áreas classificadas no patamar mais baixo do índice, a única que foge a essa regra é Itatiaiuçu, município mais distante do núcleo da RMBH. No outro extremo, os melhores resultados na dimensão se concentram em Belo Horizonte e se localizam também nos municípios de Contagem, Baldim e Pedro Leopoldo.
Na dimensão de condições habitacionais urbanas (D3) a RMBH possui apenas 10 áreas de ponderação no nível mais baixo do índice, o que representa 5,3% da área urbana. Mas a maioria não ultrapassa a média das áreas de ponderação que é um índice de 0,703, permanecendo na segunda faixa mais baixa do IBEU. Além disso, a elevação do nível do índice é inversamente proporcional à quantidade de áreas de ponderação no intervalo.
Última modificação em 13-11-2013 20:59:53