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Como sobrevivem diariamente os trabalhadores sem trabalho que residem nas periferias metropolitanas? As transformações sociais e econômicas no Brasil têm aumentado a complexidade desses territórios, revelando a heterogeneidade de modos de reprodução social. O livro “Periferias, reprodução social crítica e urbanização sem salário”, de autoria do coordenador do Núcleo Belo Horizonte do INCT Observatório das Metrópoles, Thiago Canettieri, explora as estratégias de sobrevivência de trabalhadores diante da crise do trabalho e da perda do salário como principal meio de subsistência, evidenciando as fronteiras entre o formal e o informal, o legal e o ilegal, e o emprego e o desemprego.

“Meu foco é tentar entender quais são as estratégias de sobrevivência que os pobres urbanos mobilizam para reproduzir essa vida sem salário, ou dos trabalhadores sem trabalho. E eu chego à ideia de uma reprodução social crítica, como um modo de reprodução social que ocorre num contexto de crise”, explica Canettieri.

O autor analisa as estratégias adotadas por trabalhadores em condições de vulnerabilidade, descrevendo os expedientes que garantem a sobrevivência em contextos de precariedade e informalidade. A pesquisa de Canettieri recebeu financiamento da Fundação de Apoio da Universidade Federal de Minas Gerais (Fundep/UFMG) e da Pró-Reitoria de Pesquisa da UFMG, o que permitiu seu desenvolvimento ao longo de quatro anos e viabilizou a publicação da obra, disponível para download gratuito na Biblioteca Digital do site do Observatório.

No prefácio do livro, Elisa Favaro Verdi, professora no Departamento de Geografia da Universidade de São Paulo (USP), ressalta que o termo “periferia”, muito debatido nos Estudos Urbanos, ganhou nova abordagem no estudo de Thiago Canettieri. Conforme Verdi, o autor propõe analisar as periferias como expressões espaciais das desigualdades geradas pela urbanização capitalista, destacando sua heterogeneidade. Com base em pesquisa etnográfica realizada em Belo Horizonte, Canettieri examinou estratégias de reprodução social em um contexto marcado pela crise do trabalho e pela ausência de vínculos formais de emprego.

Reprodução social crítica: sobrevivência ocorre à margem das relações formais de trabalho

Microempreendedorismo, assistencialismo de crise, endividamento, ilegalismos populares e associativismo são algumas das práticas descritas pelo autor como parte de uma “reprodução social crítica”. O estudo apontou que, para muitos trabalhadores das periferias metropolitanas, a sobrevivência ocorre à margem das relações formais de trabalho, demonstrando as contradições de uma urbanização sem salário e inspirando novas reflexões sobre as desigualdades urbanas.

Conforme Canettieri, as dimensões do trabalho e do salário vão passando por uma reconfiguração, se integrando com uma série de outras estratégias que envolvem os programas de assistência, sejam formais pelo Estado ou informais, pelos movimentos sociais, pelas igrejas, empreendimentos populares, endividamento, práticas rentistas, ilegais ou associativas. “Isso vai reconfigurando essa sociabilidade que não é mais determinada exclusivamente pelo salário”, observa.

Ele salienta que essas situações apareceram durante a participação em campo da pesquisa. “Os interlocutores falando ‘viração’, ‘correria de uma fita em outra’, ‘pulando de bico em bico’, lutando para sobreviver. Esse linguajar indica exatamente o momento em que a reprodução social passa por outros lugares e não necessariamente o trabalho estável, fechado, com uma certa longa duração”, aponta Canettieri.

Segundo ele, os diferentes caminhos pelos quais os trabalhadores sem trabalho garantem sua reprodução são críticos, ou seja, uma forma particular de produção do espaço e de urbanização: a urbanização sem salário. De acordo com o autor, é por esse viés que se desenvolve e se aprofunda a crise, fazendo implodir a sociedade do trabalho e criando diversas versões de reprodução social –  uma multiplicação das estratégias de reprodução social para além do assalariamento. “No entanto, ainda que se apresente como uma constelação heterogênea de estratégias, todas estão homogeneamente constrangidas ao imperativo da socialização baseada no dinheiro”, sugere o autor.

Sumário

  • Agradecimentos
  • Introdução
  • Formação e desconstrução do espaço periférico brasileiro
  • Sobre a reprodução social nas periferias
  • Um território de urbanização periférica
  • Geografias da reprodução social crítica nas periferias
  • Microempreendedorismo
  • Assistencialismo de crise
  • Endividamento de baixa renda
  • Rentismo periférico
  • Ilegalismos populares
  • Associativismo comunitário
  • Fraturas e fronteiras periféricas na reprodução social crítica
  • Disjunções do progresso
  • Uma constelação da reprodução social crítica
  • Referências
  • Sobre o autor

Acesse o livro em nossa Biblioteca Digital (CLIQUE AQUI).