Está disponível o dossiê “Mobilidade urbana e equidade”, publicado pela Revista Cadernos Metrópole, que possui a qualificação máxima (A1) na avaliação quadrienal Qualis Periódicos da CAPES (2017-2020).
O dossiê foi organizado por Angélica Benatti Alvim, professora titular na Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade Presbiteriana Mackenzie, Fabiana Generoso de Izaga, professora associada na Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade Federal do Rio de Janeiro, e Rosanna Forray Claps, professora associada da Pontifícia Universidade Católica do Chile.
As organizadoras afirmam que a mobilidade urbana é um pilar central na urbanização atual, refletindo um componente essencial do cotidiano global urbano:
Mais do que um mero deslocamento físico, a mobilidade urbana representa um capital distinto, caracterizado pelo fluxo contínuo de pessoas, mercadorias e informações, e sua compreensão ampliada vai além, englobando, também, aspectos cruciais na estruturação das cidades.
Para analisar a complexidade e as múltiplas dimensões da mobilidade urbana contemporânea e oferecer perspectivas inovadoras e análises críticas sobre o tema, o dossiê reúne 18 artigos, organizados em quatro blocos, que abordam aspectos fundamentais, como equidade, segregação urbana, impactos de crises sanitárias e energéticas, mudanças climáticas, infraestruturas de transporte, planejamento do espaço público, desenvolvimento orientado ao transporte, políticas públicas, planejamento e governança, inovações tecnológicas, mobilidade ativa e micromobilidade, além de explorarem as experiências cotidianas de diversos grupos, diferenciados por idade, raça e gênero. Confira!
O primeiro bloco, “Olhares, conceitos e dinâmicas da mobilidade urbana”, mergulha nas diversas facetas da mobilidade urbana, destacando o entendimento de suas infraestruturas e as discrepâncias no acesso, em um cenário global no qual o movimento e a conexão ganham cada vez mais importância.
No artigo de Bianca Freire-Medeiros, A metrópole do capital de rede mobilidades socioespaciais e iniquidades urbanas, são exploradas as assimetrias de acesso e os regimes de mobilidade em cidades altamente conectadas. O estudo introduz conceitos como “habitar em movimento” e “gramática dos deslocamentos” para compreender a interação entre mobilidades, estruturas sociais e territórios, propondo um olhar crítico sobre as desigualdades geradas por esses regimes.
Jeferson Cristiano Tavares, em Trajetórias da infraestrutura no Brasil. Concepções, operacionalizações e marcos conceituais em perspectiva, investiga os desafios entre o planejamento de infraestruturas e as dinâmicas territoriais, propondo abordagens inovadoras para projetos de infraestrutura que respeitem e valorizem as características locais, visando à minimização de impactos adversos.
Em Participação social e justiça da mobilidade no Brasil, Aline Fernandes Barata destaca a participação cívica no planejamento da mobilidade urbana como uma ferramenta essencial para enfrentar as injustiças em mobilidade, especialmente em assentamentos informais. O estudo contrasta a eficácia limitada dos espaços de participação formalmente estabelecidos com a efetividade dos espaços de participação comunitária, que surgem em resposta à insuficiência do planejamento oficial.
Thales Mesentier e Romulo Orrico, em Transporte orientado ao desenvolvimento urbano, refletem sobre o impacto do planejamento de redes de transporte nas desigualdades urbanas, sugerindo que um planejamento cuidadoso e orientado pela acessibilidade possa promover um desenvolvimento urbano mais equitativo e sustentável, contrapondo-se aos padrões de centralização e descentralização que muitas vezes perpetuam as disparidades sociais.
O Bloco 2, “Planejamento urbano e desigualdades socioespaciais”, analisa a relação entre planejamento urbano, mobilidade e desigualdades socioespaciais, considerando também o impacto das novas tecnologias.
Deiny Façanha Costa e Paula Freire Santoro, em Entre zonas e planos urbanos: modelos mobilizados nos Eixos em São Paulo, exploram a evolução da relação entre planejamento urbano e mobilidade em São Paulo, analisando a interação entre legislações urbanísticas e suas consequências no zoneamento e no desenho urbano da cidade.
O artigo Desigualdades sociais, territórios da vulnerabilidade e mobilidade urbana, de Eduardo Castellani Gomes dos Reis e Maura Pardini Bicudo Véras, aborda as desigualdades socioespaciais em São Paulo, a partir de dados estatísticos, discutindo que a segregação social se alia à dificuldade de inserção no mercado de trabalho, à busca por moradia e às lutas diárias por oportunidades e mobilidades equitativas.
Ricardo Barbosa da Silva, em Segregação espaço-temporal: tempo de deslocamento que une e separa classes e raças, examina o papel do tempo de deslocamento na segregação espacial e temporal em São Paulo, mostrando diferenças significativas entre diferentes grupos sociais e áreas da cidade. Revela que, em São Paulo, os tempos de deslocamento mais longos são típicos das populações mais pobres e negras nas periferias, enquanto os tempos mais curtos estão associados às classes mais altas e brancas nas áreas centrais.
Francisco Minella Pasqual e Júlio Celso Borello Vargas, em Aplicativos de transporte e equidade: um estudo de acessibilidade em Porto Alegre/RS, analisam o impacto dos aplicativos de transporte na acessibilidade em Porto Alegre, notando que, embora os aplicativos aumentem a acessibilidade em áreas centrais, as desigualdades persistem; eles sugerem que os aplicativos poderiam ser usados para melhorar o acesso a serviços para populações de baixa renda.
O Bloco 3, “Mobilidade sustentável, contextos e escalas”, analisa a mobilidade sustentável e as desigualdades em diferentes escalas urbanas e contextos.
Blanca Rebeca Ramírez Velázquez, em Trayectorias de movilidad social y urbana: académicos en Cuernavaca, Morelos, México, propõe uma visão ampla da mobilidade que inclui aspectos sociais, ocupacionais e residenciais, focando nos acadêmicos de Cuernavaca, México, e suas trajetórias de vida.
O estudo de André Pinto dos Santos, Juliana Silva Almeida Santos e Daniella do Amaral Mello Bonatto, Mobilidade urbana sustentável em cidade de pequeno porte: o caso de Conde-PB, examina iniciativas de mobilidade urbana sustentável em cidades pequenas, enfatizando a importância da gestão participativa e do apoio de instituições acadêmicas, mesmo na ausência de um Plano de Mobilidade.
Filipe Ungaro Marino, no artigo Mobilidade cidadania e desigualdade: analisando a infraestrutura cicloviária do Rio de Janeiro, verifica a distribuição da infraestrutura cicloviária no Rio de Janeiro, comparando bairros distintos, como Bangu e Copacabana, e discute a relação entre a infraestrutura cicloviária e a cidadania, ressaltando as disparidades na mobilidade urbana ativa.
Victor Callil, Daniela Costanzo e Juliana Shiraishi, em Bike-sharing e desigualdades: os casos de São Paulo e do Rio de Janeiro, investigam as desigualdades de raça, gênero, renda e residência nos sistemas de bike-sharing, observando um aumento na participação das mulheres e um uso mais frequente por negros, pardos e indígenas em viagens intermodais.
O último bloco, “Inclusão, segurança e diversidade no espaço urbano”, discute a inclusão, a segurança e a diversidade como elementos essenciais para a melhoria da micromobilidade e da mobilidade ativa.
Renata Marè, Osvaldo Gogliano Sobrinho e Maria Ermelina Brosch Malatesta, no artigo Efetividade do transporte público gratuito para inclusão de pessoas idosas (São Paulo), discutem a gratuidade do transporte público para idosos em São Paulo, destacando o acesso ampliado a serviços e oportunidades; mas também apontam desafios no sistema de transporte e nas ruas que impactam a mobilidade dos idosos, sugerindo medidas para melhorar a mobilidade dessa população.
Em Calçadas como lugares de socialização: equidade urbana para pessoas com mobilidade reduzida, Rafaela Aparecida de Almeida, Leticia Peret Antunes Hardt e Carlos Hardt avaliam a condição das calçadas para pessoas com mobilidade reduzida em Curitiba, considerando aspectos de acessibilidade, manutenção e segurança. O estudo mostra diferenças entre avaliações técnicas e percepções dos usuários, ressaltando a importância de entender as necessidades e os desejos individuais no espaço urbano.
Pedro Vitor Costa, Maria Rúbia Pereira e Cauê Capillé, em Usos insurgentes nas arquiteturas do trânsito: atuações como plano, truque e finta, analisam usos culturais, políticos e econômicos acoplados às infraestruturas de trânsito na periferia do Rio de Janeiro, discutindo como a arquitetura e o planejamento urbano podem contribuir para realidades menos desiguais.
No artigo Por onde as mulheres escolhem caminhar? Segurança feminina em espaços públicos, Laís Regina Lino e Milena Kanashiro investigam os fatores que influenciam a escolha de caminhos seguros por mulheres em espaços públicos em Londrina-PR, destacando a relação entre a presença de pessoas e a sensação de segurança.
Ana Paula de Oliveira Freitas, Leandro Cardoso e Rogério Faria D’Ávila, em Ciência cidadã e a (re)descoberta da caminhabilidade sob a ótica infantojuvenil, desenvolvem uma ferramenta de avaliação da caminhabilidade a partir da perspectiva infanto-juvenil, integrando a percepção dos pedestres como fator determinante e utilizando uma metodologia participativa.
Por fim, o artigo complementar Favela: o desafio de morar na metrópole paulistana, de Suzana Pasternak e Lucia Maria Machado Bógus, retrata a evolução urbana e a desigualdade manifesta nas favelas da Região Metropolitana de São Paulo, destacando o crescimento contínuo da periferia e a segregação urbana marcante na metrópole.
A Revista Cadernos Metrópole surgiu em 1999 como um dos principais produtos do INCT Observatório das Metrópoles e tem como principal objetivo difundir os resultados da análise comparativa entre as metrópoles brasileiras. Na última avaliação Qualis Periódicos (2017-2020) da CAPES, recebeu classificação A1. A revista é produzida em parceria com a EDUC (Editora da PUC-SP). Conheça a história do nosso periódico nesse post da Scielo (clique aqui).