A morte de Jorge Wilheim significa o fim de uma era. Em tempos de superespecialização e compartimentação do conhecimento, ele se destacava como um humanista, atuando simultaneamente nas mais diversas áreas: desenvolveu projetos de arquitetura e de urbanismo; ocupou cargos públicos em diversas gestões, tanto municipais como estaduais; publicou livros; realizou exposições; coordenou a Conferência Mundial do Habitat, da ONU. Enfim ele foi um homem das letras, das artes, da técnica e da política.
O texto “Jorge Wilheim (1928-2014): o fim de uma era” foi publicado no blog de Raquel Rolnik no dia 14 de fevereiro de 2014. Professora da FAU/USP e relatora especial da Organização das Nações Unidas para o Direito à Moradia Adequada, Raquel Rolnik é pesquisadora-colaboradora do INCT Observatório das Metrópoles.
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Jorge Wilheim (1928-2014): o fim de uma era
Por Raquel Rolnik
Na manhã desta sexta-feira, perdemos o arquiteto e urbanista Jorge Wilheim, hospitalizado desde o fim do ano passado após um acidente de carro.
Para além da tristeza da perda, a morte de Wilheim significa o fim de uma era. Em tempos de superespecialização e compartimentação do conhecimento, ele se destacava como um humanista, atuando simultaneamente nas mais diversas áreas: desenvolveu projetos de arquitetura e de urbanismo; ocupou cargos públicos em diversas gestões, tanto municipais como estaduais; publicou livros não apenas sobre arquitetura e urbanismo, mas também sobre questões da contemporaneidade; realizou exposições; coordenou a Conferência Mundial do Habitat, da ONU, enfim… ele foi um homem das letras, das artes, da técnica e da política.
Se por um lado a atuação de Wilheim ia na contramão da lógica predominante nos dias de hoje, ao mesmo tempo, ao longo de seus 85 anos, ele teve uma grande capacidade de se renovar, fazendo-se presente nos debates públicos, discutindo, participando e contribuindo.
No início do ano passado, aliás, tive a oportunidade de entrevistá-lo no programa Roda Viva , da TV Cultura. Lembro de tê-lo questionado bastante e até saí com a impressão de que pude ter sido agressiva… e que isso talvez o tivesse chateado.
Nos encontramos poucos meses depois e, para minha surpresa e alegria, ele me cumprimentou com o beijo e o abraço carinhoso de sempre.
Nunca poderei esquecer que todas as vezes que fui nomeada para algum cargo ou missão pública, ele era um dos primeiros a me ligar, com muita generosidade, para me dar parabéns, desejar sorte e dizer que eu podia contar com ele sempre que precisasse.
No final do ano passado, após uma reunião na prefeitura sobre o plano diretor, dividimos um táxi na volta para casa. No caminho, impressionada com a disposição que ele tinha pra participar ainda desses eventos, perguntei: Jorge, me conta, qual o segredo dessa sua vitalidade? Ele riu, comentou alguns cuidados que tomava com a saúde e, por fim, emendou: o principal, Raquel, é que eu tenho muito tesão pela vida.
Sem que eu soubesse, essa foi a nossa despedida.