Mais de 200 pessoas participaram remotamente da primeira aula da disciplina nacional sobre os desafios do direito à cidade, promovida pelo Observatório das Metrópoles na última sexta-feira, 25. Ministrada pelo coordenador nacional da rede de pesquisa, Luiz Cesar Ribeiro, a aula inaugural abordou o tema “A Metrópole Liberal-Periférica e a Ordem Urbana”. Na oportunidade, Ribeiro apresentou o programa da disciplina e abordou o conceito de ordem urbana como chave de interpretação das características e dinâmicas da metrópole liberal-periférica.
De acordo com o coordenador do Observatório, a lógica de acumulação está comandada pelas relações de produção, como, por exemplo, a lógica da “uberização” do trabalho, onde o trabalhador se autoexplora para sobreviver.
“A dependência do Brasil no capital financeiro liberal traz a submissão como uma nova forma de dependência do nosso capitalismo. As políticas seguem na linha de transformar o Brasil numa valorização do capital financeiro global. Estamos diante da formulação clara de investidores que expressa bem o capitalismo rentista financeiro e localiza na cidade um dos três grandes blocos. A fronteira da lógica de acumulação passa a ser a cidade como campo estratégico. É preciso tomar cuidado para pensar como esse arranjo se constitui em um cenário institucional”, observa Ribeiro.
Segundo ele, passamos de uma lógica econômica norteada pelo projeto de desenvolvimento industrial para uma lógica rentista financeira. “A transição tem a ver com aquilo que foi a armadura institucional e os arranjos políticos construídos no período neoliberal que conviveu com outros arranjos e blocos de poder. Diante do reformismo social construído na longa década de 80, mesmo sendo um reformismo fraco, o confronto se acirrou, depois a contestação política acabou resultando na constituição de um projeto de eliminação dessa contradição que resultou no golpe parlamentar de 2016. A eleição de Jair Bolsonaro, capturada como revolução conservadora, trouxe uma concepção conservadora nos costumes e ultraliberal na economia”, pontua Ribeiro.
Para o coordenador, o cenário conceitual e reflexivo para pensar o Observatório, fazer funcionar e orientar a atual etapa de pesquisa, certamente estará presente como tema de reflexão nas aulas, que estão organizadas em função dos projetos em desenvolvimento. “É uma tentativa de entender o padrão do capitalismo nas várias dimensões econômicas das cidades. A literatura sobre a cidade na América Latina pensava essa realidade isolada da sociedade como um todo, no entanto, a ideia é a ordem urbana como maneira de superar essa compreensão nos aspectos morfológico, sobretudo, na sociologia urbana latino-americana”, ressalta.
O registro da aula já está disponível no Youtube:
Disciplina colaborativa e institucional
Ao longo dos próximos meses, a disciplina nacional vai abordar o tema “As Metrópoles e a Ordem Urbana Brasileira: os desafios do direito à cidade“. Organizada de forma remota, a iniciativa é articulada por quinze programas de pós-graduação que compõem a rede do Observatório das Metrópoles, vinculados a dez instituições de ensino superior. Os participantes são alunos(as) de mestrado e doutorado, que terão acesso às gravações das aulas a serem disponibilizadas no canal do Observatório no Youtube após cada encontro.
Composta por cinco segmentos, que totalizam 16 aulas mais uma mesa-redonda de encerramento, a disciplina nacional está estruturada a partir do programa de pesquisa “As Metrópoles e o Direito à Cidade na inflexão da ordem urbana brasileira” do INCT Observatório das Metrópoles. Tematizadas por seus pesquisadores, as abordagens teóricas e metodológicas sobre a questão metropolitana na atualidade serão debatidas através dos seguintes pontos:
- “A Metrópole Brasileira: Formação e Metamorfose”;
- “Rede Urbana e Direito à Cidade”;
- “Território e Desigualdades Sociais”;
- “Governança Metropolitana e Regimes Urbanos”;
- “Conflitos, Insurgências e Alternativas ao Desenvolvimento Urbano”.
A mesa-redonda de encerramento abordará o tema “A Questão Urbana, Direito à Cidade e o Desenvolvimento Nacional” e ocorrerá no dia 29 de janeiro de 2021, às 14:30. Além do coordenador do Observatório, Luiz Cesar Ribeiro, a economista e a autora do livro “Curto-Circuito. O vírus e a volta do Estado”, Laura Carvalho, e o professor Nabil Bonduki participarão do debate.
Início do curso de extensão “As Metrópoles e o Capitalismo Financeirizado”
Outra iniciativa do INCT Observatório das Metrópoles é o curso de extensão “As Metrópoles e o Capitalismo Financeirizado“, que teve início na terça-feira, 29. O objetivo do curso é difundir e debater os resultados de pesquisa do Grupo Metrópole, Estado e Capital, que, desde 2015, empenha-se na construção de um marco teórico que permita compreender os atuais nexos financeirização/urbanização, sugerindo novos horizontes de investigação e de reflexão sobre eles.
O curso tem como roteiro fundamental o livro de mesmo título, lançado na primeira aula, que reúne textos tanto dos integrantes do grupo de pesquisa quanto de autores e autoras com quem mantiveram interações intelectuais, diretas ou indiretas, compartilhando indagações, análises e inquietações teóricas. Assista o vídeo de apresentação:
O livro “As Metrópoles e o Capitalismo Financeirizado” está disponível em nossa Biblioteca Digital, CLIQUE AQUI.