Por Vagner Fernandes¹
Foi realizado na Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ), no último dia 3 de setembro, o Seminário Educação e Favela, reunindo cerca de 300 participantes, entre estudantes e professores. O encontro inaugurou oficialmente o Núcleo de Pesquisa Educação e Cidade (NUPEC) e foi realizado com apoio do Laboratório de Etnografia Metropolitana (LeMetro/IFCS-UFRJ), do Grupo de Pesquisa Ciências Sociais e Educação (GPCSE/ICS-UERJ), do Núcleo de Estudos sobre Periferias (NEsPE/FEBF-UERJ) e do Instituto Nacional de Estudos Comparados em Administração Institucional de Conflitos (InEAC/UFF).
“O objetivo do seminário é refletir sobre alguns desafios a serem enfrentados quando falamos de educação em espaços tão estigmatizados e violentados como as favelas cariocas, reconhecendo ao mesmo tempo a sua potência econômica, cultural e educativa na própria configuração da metrópole. Não há como pensar a escola pública em favelas sem considerar as questões urbanas que reificam as desigualdades. Igualmente, não há como refletir sobre a cidade sem considerar as favelas. E a universidade não pode ficar fora desse debate”, destaca Leticia de Luna Freire, professora do Departamento de Ciências Sociais e Educação, da Faculdade de Educação da UERJ e coordenadora do NUPEC.
Durante quatro horas, os palestrantes convidados apresentaram as perspectivas de estudos com temas voltados para a compreensão dos processos que marginalizam de forma recorrente as favelas do Rio de Janeiro. As discussões foram apresentadas em dois painéis. O primeiro, “Desigualdades urbanas e escolares: o caso das favelas”, contou com a participação do sociológico Marcelo Burgos, da cientista social e pesquisadora do Observatório das Metrópoles, Ana Carolina Christóvão, da antropóloga Leticia de Luna Freire e da pedagoga Patrícia Elaine Pereira dos Santos. Já o segundo, intitulado “Os impactos da violência urbana nas escolas públicas das favelas”, recebeu o historiador Edson Diniz, o antropólogo Marcos Veríssimo, o sociólogo Eduardo Ribeiro, bem como a pedagoga Rosana Muniz.
“Além de promover um espaço de reflexão sobre a violência urbana, em particular a violência armada tão presente nas favelas e periferias, buscamos reforçar que as políticas de segurança pública não podem ser pensadas desvinculadas das políticas educacionais e vice-versa”, explica Leticia.
Exemplificando com os dramas da atualidade por que passam os moradores das favelas, Marcelo Burgos, professor do Departamento de Ciências Sociais da PUC-Rio, destacou incisivamente que esses territórios sofreram um processo de deterioração desde o início dos anos 2000.
“As milícias são só um sintoma disso. Há uma chegada do mercado, da monetização das relações, enfraquecendo sobremaneira a sociabilidade preexistente. As escolas e as famílias estão expostas a uma dinâmica externa. E desenvolvem um trabalho heroico para que crianças e adolescentes atravessem esse processo e cheguem ao ensino médio”, ressaltou Burgos, para quem as redes de proteção, como os Conselhos Tutelares, também se mostram frágeis diante da hostilidade com que o poder público ainda trata o tema.
Burgos ainda sinalizou que, apesar de se constituírem um elemento central na vida das crianças, a escola vem denotando certo isolamento. “A consequência é que, na maioria das vezes, a instituição se defende produzindo mais exclusão”, disse. Corroborando com o colega, Edson Diniz ressaltou que conhecer o território em que se atua é fundamental para a possível reversão deste cenário, já que “quanto mais a escola se isola, mais sofrerá e mais será agredida”.
Confira as fotos do evento:
¹ Jornalista e mestrando do Pós-graduação em Educação, Cultura e Comunicação em Periferias Urbana (PPGECC) da Faculdade de Educação da Baixada Fluminense (FEBF-UERJ).