Fevereiro de 2012. O anúncio do governo liberal de Jean Charest sobre o aumento da anuidade das universidades provocou a maior mobilização estudantil da história do Quebec, que se transformou nas últimas semanas de junho em uma grave crise social. Em “Desculpe o incômodo, nós queremos mudar o mundo!”, a pesquisadora Renata Brauner Ferreira (IPPUR/UFRJ) relata suas impressões dessa grande mobilização estudantil e como os vários setores da sociedade se vestiram de vermelho no Quebec e também foram para as ruas.
O governo canadense, alegando o subfinanciamento das universidades quebequenses comparado às universidades dos Estados Unidos e mesmo às universidades do restante do Canadá, impõe aos estudantes um aumento de 75% nos custos da educação superior para os próximos cinco anos. No entanto, mais de um quarto destes estudantes já estão bastante endividados. Segundo Statistiques Canada em 2005, 57 % dos universitários tinham pedido um empréstimo para pagar seus estudos universitários e 27% deles estavam endividados em mais de 25.000 dólares canadenses (CAD).
Então, desde o dia 13 de fevereiro de 2012, começou na província do Quebec uma greve massiva dos estudantes universitários e dos estudantes dos CEGEP1 por tempo indeterminado. No momento que escrevo o artigo, meados de junho, a greve continua. Desde então vimos assistindo, há cerca de quatro meses, milhares de estudantes saírem às ruas todos os dias e as noites também. Há algumas semanas começaram as manifestações noturnas, chamadas “Manifestações Noturnas até a vitória”.
No dia 22 de março os estudantes conseguiram mobilizar a sociedade e conseguiram juntar em sua manifestação pelas ruas da cidade em torno de 200.000 pessoas, manifestação simbolicamente chamada “Para que ninguém nos ignore”. Milhares de estudantes, mas também pais e mães, avós e avôs, professores e professoras e simpatizantes da causa da acessibilidade à educação, participaram do ato. A rua foi tomada pela cor vermelha, bandeiras, cartazes, camisetas, fantasias. A multidão foi chamada de a “maré humana”.
O vermelho é a cor escolhida pelos estudantes para chamar a atenção e o quadrado vermelho é o símbolo desta mobilização estudantil, ele também é utilizado por outros segmentos da sociedade para sinalizar o apoio à causa estudantil. Há políticos, intelectuais, artistas que portam o “carré rouge” e não somente em Montreal, mas espalhados por todo o Quebec. Xavier Dolan, o jovem cineasta montrealense foi a Cannes para promover seu novo filme e toda sua equipe portava o símbolo do movimento. Até mesmo o líder da banda Rolling Stones, Mick Jagger, no último Saturday Night Live apresentou-se com o quadrado vermelho. O apoio também se espalhou, houve manifestações de solidariedade nos Estados Unidos, em outras cidades do Canadá e mesmo por várias cidades em torno do mundo (inclusive em Taywan e na Islândia).
Leia o artigo completo de Renata Brauner Ferreira sobre as manifestações no Quebec, acessando a edição nº 09 da revista eletrônica e-metropolis aqui.