40 anos de PUR: trabalho pelo planejamento urbano brasileiro
No período de 28 de novembro a 02 de dezembro, o IPPUR realiza a XVII Semana de Planejamento Urbano e Regional com o tema “40 anos do PUR: diversidades e afins?”, com o propósito de celebrar as quatro décadas do programa. Além de divulgar e debater os resultados parciais e conclusivos das pesquisas em curso no instituto, nesta edição da Semana será lançado também o livro “Território e Planejamento” (Editora Letra Capital), contendo artigos de cada um dos professores que integram atualmente o IPPUR.
Com Apresentação do diretor do instituto, Jorge Natal, e da professora Hipólita Siqueira, o livro traz 27 artigos divididos em oito grandes seções relacionadas ao planejamento urbano, o que reflete a pluralidade de vieses analíticos, metodológicos, teóricos etc, do atual corpo docente do IPPUR. As seções são as seguintes: 1) Nação, Capital e Território; 2) População, Capital e Território; 3) Trabalho, Capital e Território; 4) Política Pública, Luta Social e Território; 5) Meio Ambiente, Luta Social e Território; 6) Cultura, História e Território; 7) Identidade, Território e Planejamento; 8) Propriedade, Território e Planejamento.
“O resultado deste livro mostra que a nossa diversidade é a nossa riqueza. O PUR e depois o IPPUR (criado em 1987) expressam uma história de sucesso no sentido da reafirmação cotidiana do seu compromisso com o pensamento crítico e as políticas verdadeiramente públicas, bem como na busca incessante pela excelência acadêmica. Os artigos presentes nesta publicação comemorativa expressam essa diversidade de pensamento”, explica Jorge Natal.
Trajetória em defesa da formação crítica
Em 1971 é criado o Programa de Pós-Graduação em Planejamento Urbano e Regional (PUR), da UFRJ, no âmbito da Coordenação do Programa de Pós-Graduação em Engenharia (COPPE). A ideia, em coro com o regime político de então, ditatorial, de corte político-militar autoritário, era a de formar quadros capacitados para elaborar e implementar uma política urbana que, à época, acreditava-se capaz de disciplinar o crescimento urbano e, de forma mais geral, racionalizar e controlar tecnicamente, a partir do poder central planejador, toda a organização territorial do país.
Porém, rapidamente, o PUR, ao invés de limitar-se a preparar tecnicamente os planejadores desejados pelo regime, tornou-se espaço de formação e de reflexão críticas, de busca de alternativas ao modelo de planejamento centralista, tecnocrático e autoritário. No quadro de tensões da época, de violência institucionalizada, estava assim armado o cenário para a intervenção que veio a ocorrer: dos onze professores envolvidos com o PUR daquela época, sete foram demitidos. Emergiram, no entanto, resistências; uma delas, talvez a mais proeminente, foi a dos estudantes – dos alunos do curso. Essa resistência foi decisiva; sem ela muito provavelmente o Programa teria sido liquidado. De início apensado à Sub-Reitoria de Pós-Graduação, o PUR voltou a selecionar uma nova turma (em 1977), que teve suas aulas iniciadas em 1978.
Nesse período, embora a intervenção continuasse e as condições de trabalho fossem muito difíceis, com a chegada de novos professores, talvez se possa dizer que o PUR começou a ganhar boa parte da feição atual. Nestes termos, é fundamental registrar que data daquela época a definição dos quatro princípios que regem, ainda hoje, o seu projeto acadêmico, a saber: a pluridisciplinaridade, a autonomia acadêmica, a pluralidade de interlocutores e a integração ensino, pesquisa e extensão.
Finda a intervenção, é criado o IPPUR – Instituto de Pesquisa e Planejamento Urbano e Regional no ano de 1987, enquanto unidade do Centro de Ciências Jurídicas e Econômicas (CCJE). Altera-se também o endereço: sai o Bloco F da COPPE e entra o 5º andar do Prédio da Reitoria. Mas o mais importante mesmo foi que, apesar de tudo, a reflexão e a produção científicas começavam efetivamente a deslanchar. Um curso de especialização em PUR é criado, e o mestrado iniciava a sua consolidação e afirmação como referência nacional neste seu campo. Já na década de 1990, o IPPUR dá novo salto com a criação em 1993 do seu curso de doutoramento, tendo sua primeira turma em 1994.
“Se considerarmos as várias conjunturas políticas desses 40 anos, percebemos que a trajetória do PUR foi muito bem sucedida. Primeiro, tivemos um período dos tempos de chumbo, de endurecimento e autoritarismo; em seguida, temos o contexto da abertura democrática na década de 1980, que embora parecesse positivo foi um momento de enormes pressões e dificuldades econômicas, o que dificultava bastante as intervenções para efeito do planejamento urbano ao nível do território e das suas várias frações. Ao chegarmos na década de 1990, também temos um contexto difícil de avanço da agenda neoliberal e da extrema reação dos poderes estabelecidos em relação a qualquer projeto com a marca pública. Dessa forma, podemos dizer que o PUR não viveu nenhum contexto histórico que tenha sido completamente favorável e, ainda assim, mantivemos a busca pela reflexão acadêmica rigorosa e uma postura crítica que sempre foi um dos nossos princípios”, explica o professor Jorge Natal.
No começo do século XXI, o Programa de Pós-Graduação em Planejamento Urbano e Regional já está consolidado e é reconhecido nacionalmente como um dos principais programas de formação de especialistas, mestres e doutores. Com grande número de convênios de pesquisa e visitas técnicas, o IPPUR dá início nesse período à efetiva internacionalização de sua produção e do seu quadro de docentes. Nos últimos anos, o instituto avançou em praticamente todas as frentes: do ensino, da pesquisa e da extensão; das condições de trabalho; da visibilidade e reconhecimento nacional e estrangeiro.
Ao longo de sua trajetória, o IPPUR também se destaca na produção de conhecimento: foram 105 teses de doutorado, 348 dissertações de mestrado, número expressivo de convênios com diversos países (Canadá, Argentina, México, Portugal, Bolívia, Colômbia), além do apoio a diversos sujeitos e movimentos sociais organizados, como o Fórum Nacional de Reforma Urbana, Movimento dos Atingidos por Barragens, entre outros.
Acesse a programação completa da XVII Semana PUR aqui.
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