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Morro da Providência — Arte de Maurício Hora
Morro da Providência — Arte de Maurício Hora Crédito: Reprodução/Web

O INCT Observatório das Metrópoles promove o lançamento da nova edição da Revista e-metropolis, que traz como destaque o artigo “Cidades faveladas: repensando o urbanismo subalterno”, assinado por Ananya Roy, professora de Planejamento Urbano, Bem-Estar Social e Geografia da Universidade da Califórnia e diretora do Instituto em Desigualdade e Democracia. O artigo propõe uma intervenção nas epistemologias e metodologias dos estudos urbanos, ao procurar compreender e transformar as formas em que as cidades do Sul global são estudadas e representadas na pesquisa urbana e, até certo ponto, também no discurso popular.

Desse modo, o trabalho de Roy se ocupa principalmente com uma formação de ideias — “urbanismo subalterno” — que se encarrega da teoria da megacidade e de seus espaços e classes subalternas. Desses, a onipresente “favela” é a mais proeminente. Ao escrever contra narrativas apocalípticas e distópicas da favela, o urbanismo subalterno fornece relatos da mesma como um terreno de habitação, subsistência, auto-organização e política.

De acordo com Ananya Roy, esse é um desafio vital e mesmo radical para as narrativas dominantes da megacidade. No entanto, o artigo também está preocupado com os limites e as alternativas ao urbanismo subalterno. O texto destaca portanto as estratégias analíticas emergentes, utilizando categorias teóricas que transcendem as conhecidas metonímias do subdesenvolvimento, tais quais a megacidade, a favela, a política de massa e o habitus dos despossuídos. Diversamente, quatro categorias são discutidas: periferias, informalidade urbana, zonas de exceção e espaços cinzentos. Informadas pelo urbanismo do Sul global, essas categorias rompem com entendimentos ontológicos e topológicos de sujeitos e espaços subalternos.

O artigo “Cidades faveladas: repensando o urbanismo subalterno” foi publicado originalmente como Roy, Ananya (2011). Slumdog cities: Rethinking subaltern urbanism. International Journal of Urban and Regional Research, 35(2), 223-238.

A Revista e-metropolis contou com a colaboração na tradução dos pesquisadores Mariana de Moura Cruz (lattes) e João B. M. Tonucci Filho (lattes).

Ananya Roy lecionou na Universidade da Califórnia, Berkeley, onde fundou e liderou vários programas acadêmicos, incluindo os programas em Estudos Urbanos e Estudos Metropolitanos Globais, além de ocupar a presidência em Pobreza Global e Prática. Nascida em Calcutá, Índia (1970), Roy é Bacharel em Estudos Urbanos Comparativos (1992) pelo Mills College, mestre em Planejamento Urbano (1994) e doutora (1999) pelo Departamento de Planejamento Urbano e Regional da Universidade da Califórnia, Berkeley.

REVISTA E-METROPOLIS Nº 31

INTRODUÇÃO

POR ANANYA ROY

Na imaginação urbana do novo milênio, a “megacidade” tornou-se uma abreviação para a condição humana do Sul global. Cidades de tamanhos enormes são delineadas pelo que Jennifer Robinson (2002: 531) chamou de “desenvolvimentismo”. Os seus problemas hercú leos de subdesenvolvimento – pobreza, poluiçãoambiental, doenças – são motivos de inú meros diagnósticos e intervenções reformistas. A megacidade pode, portanto, ser entendida como o “exterior constitutivo” dos estudos urbanos contemporâneos, existindo em uma relaç ão de diferença com a norma dominante da “cidade global” – nós urbanos que são vistos como pontos de comando e controle da economia mundial.

Seguindo Chantal Mouffe (2000: 12), que, por sua vez, recorre a Jacques Derrida, o “exterior constitutivo” não é um oposto dialético, mas sim uma condição de emergência, um externo que, estando dentro, cria uma “indecidibilidade radical”. A megacidade, desse modo, torna impossível a própria categoria da cidade global, revelando os limites, as porosidades e as fragilidades de todos os centros globais. Existe um futuro de megacidade para todas as cidades globais? Qual cidade global pode funcionar sem a dependência relacional de economias aparentemente distantes de combustíveis fósseis e mão de obra barata? Nesse sentido, a megacidade marca os limites do reconhecimento arquivístico e etnográfico2. Assim, a megacidade é o “subalterno” dos estudos urbanos. Não pode ser representada nos arquivos do conhecimento e, portanto, não pode ser o sujeito da história.

Este artigo é uma intervenção nas epistemologias e metodologias dos estudos urbanos. Nele, procuro entender e transformar as formas em que as cidades do Sul global são estudadas e representadas nas pesquisas urbanas e, até certo ponto, no discurso popular. Desse modo, o artigo se ocupa principalmente com uma formação de ideias – “urbanismo subalterno” – que se encarrega da teoria da megacidade e de seus espaços e classes subalternas. Desses, a onipresente “favela” é a mais proeminente. Escrevendo contra narrativas apocalípticas e distó picas da favela, o urbanismo subalterno fornece relatos da mesma como um terreno de habitação, subsistência e política. Esse é um desafio vital e mesmo radical às narrativas dominantes da megacidade. O urbanismo subalterno é então um paradigma importante, pois busca conferir reconhecimento a espaços de pobreza e formas de agência popular que muitas vezes permanecem invisíveis e negligenciadas nos arquivos e anais da teoria urbana.

No entanto, neste artigo estudo os limites de tais itinerários de reconhecimento ao repensar o urbanismo subalterno. Com base na teoria pós-colonial, desloco o significado de “subalterno” do estudo de espaços de pobreza e formas de agência popular para um questionamento de categorias epistemológicas. Seguindo o trabalho de Spivak (1999), o subalterno pode ser entendido como marcando os limites do reconhecimento arquivístico e etnográfico; é isso que força uma análise de epistemologias e metodologias dominantes. Destinado a ser mais do que uma ruptura epistemológica, o artigo destaca emergentes estratégias analíticas de pesquisa. Particularmente, são discutidas quatro categorias – periferias, informalidade urbana, zonas de exceção e espaços cinzentos. Informadas pelo urbanismo do Sul global, essas categorias rompem com entendimentos ontológicos e topológicos de sujeitos e espaços subalternos.

Acesse o artigo completo na edição nº 31 da Revista e-metropolis.

 

Publicado em Artigos Científicos | Última modificação em 21-12-2017 15:04:10