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Curso "Análise Social do Território Metropolitano", Vassouras, agosto de 2012

Curso “Análise Social do Território Metropolitano”, Vassouras, agosto de 2012

Profissional da Metrópole: produzindo conhecimento em Rede

Quais competências são necessárias para a formação do Profissional da Metrópole? Os desafios da sociedade urbana contemporânea exige um conhecimento que supere a fragmentação do conhecimento, em razão do caráter sistêmico dos problemas urbanos. É nesse contexto que o Observatório das Metrópoles vem desenvolvendo um programa de pesquisa e ensino interdisciplinar, buscando superar as fronteiras inter e intra universitárias, disciplinares, das políticas setoriais e regionais. Ao reunir pesquisadores de 15 metrópoles brasileiras para o curso “Análise Social do Território Metropolitano”, o instituto deu mais um passo no propósito de formar profissionais capazes de pensar as cidades e o país de maneira mais integrada.

O curso “Análise Social do Território Metropolitano” foi realizado no município de Vassouras, no interior do estado do Rio de Janeiro, no período do dia 30 de julho a 03 de agosto. O encontro teve como propósito apresentar a metodologia das categorias socioocupacionais, preparando os pesquisadores para a análise dos territórios a partir dos dados do Censo 2010. Mas não foi apenas isso. Ao reunir 25 pesquisadores dos 15 núcleos regionais da Rede Nacional, o Observatório quis possibilitar um espaço de troca, de compartilhamento de experiências e visões das mais diversas disciplinas e origens, formando uma rede efetiva de conhecimento científico.

Para o coordenador nacional do instituto, Luiz Cesar de Queiroz Ribeiro, iniciativas como a do curso permitem ultrapassar as fronteiras e a fragmentação do conhecimento ainda presente no meio universitário. “Falar de uma ciência sem fronteira significa apontar uma pesquisa de forma colaborativa e criativa, experiências inovadoras que superem as fronteiras da universidade, das disciplinas e das políticas. Em julho, o Observatório recebeu o parecer técnico do MCTI, o qual elogiou a nova produção em rede multidisciplinar”, afirma.

Segundo o pesquisador Marcelo Gomes Ribeiro, doutor pelo IPPUR/UFRJ, e um dos responsáveis em ministrar o curso, a metodologia das categorias socioocupacionias é, talvez, a principal metodologia do Observatório a qual possibilita uma análise comparativa entre as metrópoles brasileiras. “O que estabelece uma relação com todos os núcleos são essas categorias, já que elas podem serem aplicadas em regiões metropolitanas diferentes e com tempos diferentes, possibilitando um estudo comparativo entre territórios – o que é pouco comum nas Ciências Sociais. Como as categorias socioocupacionais são desenvolvidas a partir das informações sobre o território, normalmente usamos os dados do Censo demográfico. Nesse sentido, o curso também teve o objetivo de preparar os pesquisadores para a utilização dos dados do Censo 2010“, explica.

De acordo ainda com o pesquisador, a metodologia das categorias socioocupacionais procura apreender a estrutura social e como ela se retraduz no território metropolitano. Existe toda uma fundamentação teórica para chegar nessa metodologia, na qual o instituto procura explicar o seu entendimento sobre estrutura social para, a partir daí, entrar na análise do território propriamente dito.

“Utilizamos uma proxy de estrutura social, ou seja, é o que a gente entende e diz que entende como estrutura social para o desenvolvimento das pesquisas, não é aquilo que é a estrutura social, já que isso depende da perspectiva da investigação. E essa proxy é construída a partir da categoria ocupação, ou melhor dizendo, são 24 categorias socioocupacionais com uma hierarquia entre elas. É a partir delas que tentamos compreender a dinâmica do território metropolitano”, argumenta Marcelo Ribeiro.

Compartilhamento de olhares e experiências sobre a metrópole


Recém integrada à Rede Observatório das Metrópoles, a professora Gabriela de Souza Tenório, da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da UnB, participou do curso em Vassouras com o propósito de conhecer melhor a metodologia do instituto e trocar experiências com os pesquisadores das outras metrópoles brasileiras. “Todo o conteúdo ministrado foi importante para o trabalho que o núcleo de pesquisa de Brasília tem desenvolvido. Desde os contextos da estatística – o software StatLAB; às informações sobre o modo como o IBGE constrói os dados e microdados, e a maneira de consolidação das áreas de ponderação. O curso também mostrou as limitações desses dados produzidos, e como nós, pesquisadores de territórios, temos que avaliar se essas áreas de ponderação servem para a nossa análise”, explica e completa:

“O mais interessante pra mim como arquiteta da UnB foi apreender essa metodologia que divide a sociedade em ocupação, e não só por renda. Dessa forma, destacamos o chamado capital cultural das pessoas e produzimos análises mais abrangentes sobre o funcionamento dos territórios metropolitanos no Brasil”.

Para o professor Rômulo Ribeiro (Unb), responsável também por ministrar o curso na parte sobre georreferenciamento, o encontro foi muito bem avaliado, por conta da apreensão da metodologia e da troca de experiências tão ricas entre pesquisadores com diversas formações. “Houve a interação entre pesquisadores com formações distintas e que vivenciam realidades urbanas muito diversas. Além disso, o Observatório das Metrópoles consolida uma metodologia em formato rede, padronizada e integrada para a investigação  das metrópoles brasileiras”, afirma.

“O Observatório das Metrópoles é conhecido nacionalmente por essa metodologia; desde que comecei a fazer parte da Rede venho usando os resultados; mas agora vou participar da elaboração dos tipos para refletir sobre a realidade da região metropolitana de Fortaleza”. Essa é a opinião da professora Clarissa Figueiredo Sampaio Freitas, da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo, da Universidade Federal do Ceará (UFC), que integra a rede Observatório das Metrópoles desde 2010, desenvolvendo pesquisas nos TRs sobre Moradia e Megaeventos – com enfoque para a produção imobiliária para as classes C e D via programas estatais. Segundo ela, apreender a metodologia das categorias socioocupacionais foi fundamental para todo trabalho que vem sendo realizado pelo núcleo. Outro ponto de destaque do curso reside no fato de o Observatório das Metrópoles conseguir vincular a questão quantitativa com a abordagem teórica, oferecendo informação consistente como subsídio para a intervenção no território.

“A questão da espacialização é fundamental. Trabalho na Faculdade de Arquitetura e Urbanismo e, muitas vezes, vemos ideias inspiradas, mas sem dados para fundamentá-las. Com as categorias socioocupacionais e os cartogramas georreferenciados temos uma mudança de perspectiva, ou seja, a análise fica mais embasada. Não adianta a gente querer intervir no território, se não temos uma abordagem mais ampla dele”, defende.

Na Universidade Federal do Ceará, Clarissa irá se juntar ao restante da equipe para elaborar as tipologias socioocupacionais para Fortaleza a partir dos dados do Censo demográfico 2010, ressaltando a segregação e as oportunidades para as populações de baixa renda no território da região metropolitana. “Depois dessa etapa, vamos ter uma leitura da evolução do território de Fortaleza entre 2000-2010, a partir de uma tipologia semelhante. A nossa ideia é produzir uma publicação a fim de oferecer esses dados espacializados para outras pesquisas no Ceará”.

Categorias socioocupacionais: abrangência na análise dos territórios


Marco Antônio Couto Marinho é doutorando pelo Departamento das Ciências Sociais da PUC Minas e pesquisador do núcleo Belo Horizonte do Observatório das Metrópoles, desenvolvendo trabalhos pelo TR Organização Social do Território e Criminalidade Violenta. Para a sua tese de doutorado, Marco Antônio está investigando trajetórias juvenis em territórios marcados por históricos de violência. Com enfoque na RMBH, ele conta que o curso em Vassouras foi muito importante, pois vai utilizar as categorias socioocupacionais para compreender melhor os diversos territórios. “Posso cruzar as tipologias de ocupação para pensar o crime e suas relações com o território”, afirma.

Questionado sobre o curso oferecido pelo instituto, Marco Antônio explica que um encontro com pesquisadores de diferentes áreas foi bastante relevante para a formação de um pensamento para a metrópole. “Esse profissional da cidade é fundamental no âmbito acadêmico como nas esferas governamentais, elaborando políticas públicas. É um profissional que precisa da cidade, tanto quanto a cidade precisa dele”.

Marley Vanice Deschamps participou também do Curso de Análise Social do Território com o objetivo de ampliar, ainda mais, seus conhecimentos de pesquisa dos espaços metropolitanos. Professora da Universidade do Contestado (SC) e pós-doutoranda no Programa de Pós-Graduação em Geografia pela Universidade do Paraná (UFC), integra o núcleo Curitiba do Observatório das Metrópoles há oito anos, tendo participado das experiências da rede via Programas Pronex e Instituto do Milênio. “Eu sempre participei das discussões dos resultados do Observatório das Metrópoles, mas não tinha participado ainda das discussões da formulação da metodologia do instituto. Por esse motivo, o curso foi fundamental pra mim, porque aprendi a trabalhar com as ferramentas, entender como é feita a comparação”.

De acordo com Marley, ela vai desenvolver agora de uma nova etapa da pesquisa, já que vai participar com o núcleo da elaboração dos clusters e categorias que são melhores para Curitiba, ampliando assim o modo de pensar a metrópole. “A próxima etapa será discutir com os outros pesquisadores do núcleo quais grupos socioocupacionais vamos usar para analisar Curitiba, ou seja, quais tipologias refletem melhor essa realidade. E vamos fazer isso com uma equipe multidisciplinar capaz de pensar essa questão – profissionais da Geografia, Arquitetura, Economia, Sociologia e do Meio Ambiente. É uma equipe que está estudando a RM de Curitiba em suas várias dimensões, e é essa equipe que vai ser responsável por refletir sobre a realidade socioespacial metropolitana”.