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O estudo Organização Socioespacial e Dinâmica Demográfica na Região Metropolitana do Rio de Janeiro buscou investigar as transformações na dinâmica demográfica da Região Metropolitana do Rio de Janeiro (RMRJ), reflexão esta que se insere num conjunto de estudos sobre as grandes tendências na organização social do território metropolitano brasileiro.
O relatório elaborado por Érica Tavares parte da tipologia socioespacial já existente e estudada para algumas áreas metropolitanas pelo Observatório das Metrópoles (que vem buscando compreender a composição social do espaço interno das metrópoles, considerando a estrutura sócio-ocupacional e as transformações ocorridas entre 1991 e 2000 ) e relaciona com as mudanças demográficas, os movimentos populacionais e os deslocamentos cotidianos.

O relatório “Organização Socioespacial e Dinâmica Demográfica na Região Metropolitana do Rio de Janeiro” retoma trabalhos anteriores do Observatório, nos quais foram delineadas algumas mudanças ocorridas na organização socioespacial do território da Região Metropolitana do Rio de Janeiro. Sendo assim, busca associá-las às transformações demográficas, aos movimentos populacionais e aos deslocamentos temporários. Destacamos aqui algumas das observações apontadas.
Associada a uma análise das áreas superiores, médias, operárias e populares, realizou-se também uma análise em nível municipal, considerando os municípios renda, que exercem maior centralidade na RMRJ (Niterói, Rio de Janeiro); municípios de natureza mista entre apropriação e geração de riqueza que apresentam melhores condições de vida e uma diversificação social na periferia, chegando a exercer relativa centralidade na própria periferia (Nova Iguaçu, Duque de Caxias, Nilópolis, São João de Meriti e São Gonçalo); e outros municípios renda e produção, que se dividem entre aqueles com dinâmica demográfica mais estável, com menores ritmos de crescimento, e outros com características diferenciadas especialmente em termos de crescimento populacional mais elevado.
Tanto em 1991 como em 2000, as diferenças entre estes grupos de municípios e entre as áreas superiores, médias, operárias e populares são consideráveis. Sobre a estrutura etária, vimos que a base da pirâmide é bastante larga no tipo operário e mais ainda no popular; já nas áreas de tipo médio, há uma redução na proporção de crianças e jovens, o que é mais evidente no tipo superior. Também é possível notar as diferenças de cor segundo localização no espaço, nas áreas superiores, a proporção de brancos predomina, já nas áreas populares, a proporção de pretos e pardos supera a proporção de brancos – composição por cor bem distinta especialmente das áreas superiores e médias.
A dinâmica demográfica bastante diferenciada entre os tipos socioespaciais sugere uma forte relação com o contexto socioeconômico, as condições de inserção no mercado de trabalho e de moradia. Por exemplo, pode-se perceber que as condições econômicas, de rendimento e de acesso a determinados serviços e bens também apresentam relação com o regime de fecundidade. Mesmo com níveis reduzidos de fecundidade, a Taxa de Fecundidade Total (TFT) vai diminuindo consideravelmente conforme as áreas apresentem posição mais elevada na hierarquia socioespacial – aspectos ligados às transformações pelas quais a sociedade de uma maneira geral vem passando, em termos culturais, sociais e familiares.
O comportamento da fecundidade se apresenta de maneira diferente tanto entre os grupos etários como entre os tipos socioespaciais. As áreas populares apresentam níveis mais altos de fecundidade entre mulheres mais jovens, o que se altera conforme aumenta a posição na hierarquia socioespacial; já nas superiores, adia-se mais o nascimento dos filhos. A partir dos 30 aos 34 anos, os níveis de fecundidade segundo os tipos começam a encontrar-se – é quando a fecundidade esteve semelhante tanto para as mulheres que moram em áreas superiores quanto para aquelas que residem em áreas populares. A partir dessa faixa etária, a fecundidade das mulheres nas áreas superiores ultrapassa aquelas das outras áreas – mostrando a fecundidade tardia para essas mulheres, ou seja, especialmente para as mulheres de 35 a 39 anos, os níveis de fecundidade são maiores nas áreas com melhor posição na hierarquia socioespacial.
Desta forma, é possível notar uma relação estreita entre condições socioeconômicas e composição das classes sociais no território com a dinâmica demográfica. Consideramos importante pensar desenvolvimento e nível socioeconômico segundo um conjunto de elementos relacionados entre si, como taxa de urbanização, acesso à educação de qualidade, inserção no mercado de trabalho, acesso a serviços de saúde e informação, utilização de métodos contraceptivos, entre outros. Quanto à mortalidade, a probabilidade de morte até cinco anos também vai aumentando consideravelmente conforme diminui a posição das áreas na hierarquia socioespacial.
Sobre a mobilidade espacial, pode-se notar que a divisão realizada para melhor compreensão da dinâmica ao nível dos municípios (que considerou condições de geração e apropriação de riqueza dos municípios e condições de bem-estar), tem relação com a mobilidade populacional, pois os municípios-renda estão perdendo população através da migração; os municípios-mix estão recebendo população, mas não na mesma medida que os demais municípios mix e produção, que estão atraindo mais pessoas.
Na migração intrametropolitana, os movimentos que envolvem a periferia apresentam maior participação em relação à população nas áreas operárias e mais ainda nas áreas populares (que também predominam na periferia), em 2000, essa participação também aumenta, ou seja, há um maior movimento em direção à periferia.
Quanto ao movimento com outros municípios do Estado, as participações são maiores tanto nas áreas superiores como nas populares, o que nos faz sugerir a hipótese de mobilidade socialmente diferenciada, apesar do fluxo semelhante – aqueles que chegam de outros municípios do Estado e podem residir em áreas superiores e aqueles que foram morar em áreas menos abastadas. Sendo assim, as condições de mobilidade operam distintamente conforme a origem e o destino do movimento e provavelmente conforme as condições socioeconômicas das pessoas e dos lugares. Para os imigrantes que vieram de fora do Estado, há uma maior concentração no município do Rio de Janeiro. Além disso, apesar de estarem ocorrendo movimentos de pessoas e famílias para fora de áreas centrais, muitas dessas pessoas foram residir fora do núcleo, mas ainda permanecem trabalhando neste espaço.
De maneira geral, é possível confirmar que existem relações entre a organização do território baseada em uma categorização sócio-ocupacional com a dinâmica demográfica em espaços internos à área metropolitana. Com singularidades que devem ser consideradas, no geral, quanto maior a posição na hierarquia socioespacial, menores as proporções de pretos e pardos, as taxas de fecundidade e a probabilidade de morte – para essas duas últimas dimensões, mesmo operando sob níveis mais reduzidos no geral, as diferenças são consideráveis entre os tipos e também entre os municípios. Para a mobilidade, podemos também sugerir que há esquemas diferentes operando sobre os grupos em movimento, que devem considerar tanto o nível do território quanto às condições do indivíduo.
Clique aqui e leia o relatório na íntegra.
Escrito por Érika Tavares|Última atualização em Qua, 10 de Março de 2010 18:05