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Na última quinta-feira (27/05), ocorreu uma reunião de trabalho do projeto Geografia Social do Voto. Uma das principais motivações desse projeto reside no paradoxo que se observa entre a centralidade do lugar ocupado pela metrópole na dinâmica urbana do País, de um lado, e na ausência de um sistema de governança dos aglomerados urbanos metropolitanos que atenda aos requerimentos da eficiência e eficácia na gestão dos problemas comuns e das políticas públicas, de outro.
Os temas metropolitanos e, em particular, a construção de um arcabouço institucional de governança da metrópole têm-se inserido naquela categoria de temas que se vêem de forma sistemática excluídos da agenda pública; ora se para muitos, o viés dos sistemas políticos se manifesta muito mais sobre o que não se decide do que sobre o que é decidido, ou seja, sobre aqueles temas que de forma perene e sistemática, são excluídos da agenda pública, a análise política deve exatamente se ocupar em decifrar, tanto do ponto de vista macro-estrutural, como do ponto de vista da interação estratégica de atores individuais, da rationale subjacente a esses processos de não-decisão. No nosso caso, a não politização do tema metropolitano e da governança metropolitana, é um exemplo característico de agenda que se vê impossibilitada ou obstaculizada pelos atores políticos de se inserir na agenda pública.
Essa primeira reunião contou com a participação de pesquisadores dos núcleos do Rio de Janeiro, de São Paulo, Brasília, Goiânia, Natal e Porto Alegre. Os professores Luiz Cesar Ribeiro, Sérgio Azevedo e Nelson Rojas destacaram, em suas falas, a importância da questão da geografia social do voto para a governança das grandes áreas metropolitanas, bem como suas possibilidades analíticas. Nesta ocasião, foram apresentados os primeiros resultados iniciais do trabalho para a região metropolitana do Rio de Janeiro sobre a caracterização do mercado eleitoral nos locais de votação da região metropolitana, e a metodologia utilizada no processo de geocodificação destes locais.
O avanço dessa pesquisa exige o mapeamento mais fino da geografia do voto dos representantes eleitos tantos para a Câmara Federal como para as Assembléias Legislativas. Ao mesmo tempo, cumpre selecionar indicadores de atuação legislativa e categorizá-los em seu escopo: nacional, metropolitano, municipal/local.
Neste sentido, já está sendo realizado um levantamento junto ao TSE dos dados eleitorais referentes a deputados federais e estaduais das quatro últimas eleições: 1994, 1998, 2002 e 2006

Pesquisa já avança na cartografia eleitoral

Como um dos procedimentos fundamentais para o desenvolvimento da pesquisa, o mapeamento do mercado eleitoral no plano intra-metropolitano se encontra bem avançado, pelo menos no que diz respeito à maneira como realizado. Vale lembrar, que é a partir da desagregação dos dados eleitorais, no nível do bairro até ao nível do local de votação, que se poderá verificar o grau de concentração/dispersão e dominância/não-dominância da votação dos deputados federais e estaduais eleitos nos espaços metropolitano. A partir desta análise é possível, por exemplo, avaliar o percentual de deputados que, embora com votação na área metropolitana, tenham uma votação concentrada no território.
Uma etapa fundamental deste trabalho consistiu na montagem de um banco de dados geográfico, o que implicou na geocodificação dos aproximadamente 2.900 locais de votação da região metropolitana do Rio de Janeiro (cadastrados da eleição de 2008). O processo de geocodificação constituiu-se em atribuir a um endereço no formato textual uma localização no plano de coordenadas geográficas. Com os endereços dos locais de votação geocodificados passamos a representá-los em um mapa por meio de pontos georreferenciados. Os pontos são geralmente utilizados em Sistemas de Informação Geográfica e cada um deles possui um par de coordenadas para sua localização, representando a localização de um evento ou objeto.

A geocodificação dos locais de votação da região metropolitana do Rio de Janeiro foi realizada a partir dos endereços disponibilizados pelo TRE-RJ utilizando diferentes ferramentas disponíveis na internet para se definir a localização com coordenadas geográficas sendo que a precisão espacial da geocodificação pode variar. Por exemplo: quando não foi encontrado o endereço exato por rua e número, é possível que o equipamento tenha sido localizado pela rua, CEP ou bairro. O banco de dados geográfico para a RMRJ foi apresentada nessa reunião, onde foi definido como uma das atividades previstas para o projeto a construção das bases geocodificadas dos locais de votação das demais RMs.

A partir dos avanços alcançados no estudo preliminar sobre a Geografia do Voto na região metropolitana do Rio de Janeiro já é possível replicar a metodologia desenvolvida às demais áreas metropolitanas abarcadas pelo INCT Observatório das Metrópoles. Os resultados obtidos na escala intra-urbana da RMRJ são inéditos, tanto no campo da ciência política no Brasil, como na discussão sobre a questão metropolitana que perpassa diversas disciplinas acadêmicas. Portanto, uma análise comparativa entre as áreas metropolitanas tendo a geografia social do voto como foco nos permitiria subsidiar o debate sobre os limites e possibilidades da gestão metropolitana no Brasil.

Escrito por Observatório|Última atualização em Qua, 02 de Junho de 2010 19:45