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Na quinta-feira (1/07), representantes da sociedade civil, do governo e de espaços acadêmicos participaram, no Anfiteatro 100 da Universidade Federal do Paraná (UFPR), do [De]bate-bola. O evento trouxe a discussão sobre os Impactos Metropolitanos da Copa de 2014 em Curitiba e Região Metropolitana (RMC). Cerca de 70 pessoas acompanharam e levantaram questões às apresentações dos projetos que serão executados na RMC para garantir que Curitiba se confirme como uma das sedes dos jogos em 2014. Durante o debate, houve a contextualização histórica dos efeitos dos megaeventos nas cidades, a apresentação de mapas representando as modificações pelas quais a cidade deve passar antes da Copa, e em seguida foram feitas duas rodadas de intervenções da plateia.

Abertura: Professora Olga Firkowski – UFPR-GEDIME, Observatório das Metrópoles
Apresenta as entidades proponentes, a relevância da temática no âmbito das atividades do Observatório, a intenção de que este seja o primeiro de uma série de debates sobre o tema, e anuncia a composição da mesa: Algaci Tulio (Secretário de Estado Especial para Assuntos da Copa de 2014), Zelinda Rosário (técnica do Instituto de Pesquisa e Planejamento Urbano de Curitiba – IPPUC), Andrea Braga (Professora da Universidade Positivo – UNICEMP –, representante do Observatório de Políticas Públicas Paraná).
Como abordagem inicial, a professora Olga destaca que a inserção dos grandes eventos esportivos, entre outros, no espaço urbano, do ponto de vista dos investimentos e das transformações territoriais não é nova. Desde há muito esses eventos fazem parte da agenda de mudanças urbanas induzidas por grandes investimentos, como é exemplo da Exposição Universal em Londres, em 1851, que marca o início da era das grandes exposições, e materializa como marco um palácio de cristal (cujos elementos arquitetônicos lembram bastante inúmeros outros existentes em muitas cidades, inclusive o que se encontra no jardim botânico de Curitiba).
Destaca também a exposição da França, no ano 1988, cujo marco é a torre Eiffel. Entre os mais recentes, a Expo Lisboa, em 1998, que deixa como ícone o Parque das Nações, e a recém acontecida Expo Shanghai, como expoente de um país que se sobressai pelas transformações urbanas. Se os primeiros eventos tinham a indústria como atividade motivadora, recentemente, é a requalificação de áreas degradadas que assume centralidade entre os objetivos de tais eventos. Mostra que esses tipos de intervenção vão muito além de Barcelona, que se tornou modelo. Voltam-se a criar novos lugares de encontro e a vender a imagem da cidade. O que muda é a internacionalização e a globalização, apoiadas em tecnologias de informação e comunicação, e com isso, as perspectivas das cidades em torno da atratividade e visibilidade internacional. Apoiada na compreensão de Ascher, quanto a uma 3ª revolução urbana, aponta como pressupostos da mudança: a alteração do sentido da cidade e sua materialidade, a partir de novos projetos, pensamentos e atitudes (um neo urbanismo); as transformações no cotidiano das pessoas (computador pessoal, internet, celular, 2º e 3º carros).
Faz parte de um duplo processo: de homogeneização, pois são os mesmos agentes, as mesmas lógicas, que agem em todas as partes (internacionalização), e de diferenciação, que acirra a competitividade e a concorrência interurbana, buscando acentuar as diferenças. Diferenças que explicam a escolha de 12 entre as tantas cidades que se candidataram a sediar jogos da Copa no Brasil. Com ênfase nas lógicas da cidade, aponta a territorial, a competitiva, a da articulação em rede (apoiada na inovação informacional), a eficácia exterior, a visibilidade, a atratividade, a criação de símbolos (aeroportos, feiras e eventos, grandes ambientes, exposições entre outros), e algumas posturas de mixagem social ou cultural, econômica ou urbanística, que abusam de prefixos como o pluri, o multi, o poli, o mix. Salienta que, há algum tempo, a chaminé já foi o símbolo…
Nessa cidade transformada pelos eventos surgem as grandes oportunidades de negócios. Trazendo exemplos de empresas internacionais (como a Schlaich Bergermann und Partner, alemã) que respondem por inúmeros projetos de adequação de estádios, entre outros, inclusive no Brasil, articulando-se a grupos nacionais (caso já prenunciado nas adequações do estádio do Atlético Mineiro). Do mundo dos negócios, as repercussões urbano/metropolitanas se materializam a partir dos grandes projetos que se conectam na esfera mundial; do aporte de investimentos externos e compras de tecnologias (como a dos tetos retráteis), de consultorias e modelos de gestão, e da requalificação urbana, pautada em projetos de gentrificação (em Atlanta, projetos desse tipo possibilitaram o retorno das classes média e alta ao centro, com a relocação dos pobres), relocação de moradores e atividades, investimentos em infraestrutura e transportes, modernização de aeroportos.. Finalizando a abordagem,coloca algumas questões para o debate: (i) Como administrar o conflito entre a urgência da sociedade e as demandas de investimentos para os eventos? (ii)Como a sociedade pode se inserir nas discussões? (iii) Como inserir adequadamente as demais cidades do espaço metropolitano no projeto de Curitiba?

Algaci Tulio – Secretário de Estado Especial para Assuntos da Copa de 2014
O Secretário anuncia sua intenção de tranquilizar todos os presentes de que “vamos ter a Copa em Curitiba”, pois Curitiba tem a vantagem de ter o estádio mais moderno do Brasil (Atlético), construído em preparação à candidatura do Brasil para a Copa, já em 2002. Porém, faltam ser construídos 30% dessa obra. Os impasses, a despeito do termo de compromisso assinado pelo Estado e Município, estão na ordem dos recursos: são R$ 138 milhões para essa finalização (há previsão de financiamento do BNDES, mas o valor se elevaria para R$ 230 milhões); o poder público não pode investir numa obra da iniciativa privada; há uma intenção em se usar recursos da COPEL, com a proposta de transformar o estádio na Arena Copel, porém surgiram problemas entre os acionistas. Entre as possibilidades, há um haver de R$ 30 milhões do ICMS das montadoras, que o governo poderia repassar para a obra, além de outros mecanismos fiscais e tributários. A FIEP, para evitar as perdas do comércio local com uma possível saída de Curitiba, reuniu-se com o Governo e administradores do Atlético e ofereceu como alternativa a compra de 14 mil cadeiras pelas empresas vinculadas à Federação, nas quais insertariam suas publicidades, a um valor de R$ 100 mil reais pagos em 2 anos, com direito de 10 anos de uso. A Federação do Comércio também já agendou reunião, que acontecerá dentro do prazo de prorrogação por 30 dias dado ao Atlético para resolver o impasse. São alternativas abertas que garantirão a arena, mas são muitas as exigências da FIFA. Ao mesmo tempo, já “aterrisaram” em Curitiba grandes investidores se propondo a construir “arenas” em outros locais. O grupo que está construindo o estádio do Grêmio, em Porto Alegre, é um deles, e se propôs a construir onde hoje está o Pinheirão. Mas, o governo, que sai em 6 meses, não pode assumir um compromisso desse tamanho. O Secretário salienta que dos R$ 142 bilhões a serem investidos na economia brasileira, R$ 1,5 milhões serão em Curitiba. Se a Copa não vier, dificilmente sairão investimentos como a terceira pista do aeroporto (que se alocará sobre área “invadida” e que já é objeto atual de “despejos”, como disse). No âmbito do governo do Estado, serão investidos R$ 400 milhões em obras como o contorno metropolitano, dentro do programa PIT(Programa Integrado de Transporte da Região Metropolitana de Curitiba), terminais de transporte de passageiros (como o inaugurado nesta data, durante a reunião do governo itinerante em São José dos Pinhais), enfim, uma série de obras nos municípios do entorno de Curitiba. Esses projetos estão previstos em parceria com o município, que prevê um anel viário interno, contornando a Arena do Atlético, no valor de R$ 80 milhões, e a Av. das Torres, com a retirada das torres, que irão em parte para a lateral e em parte para o subterrâneo, permitindo a circulação de ônibus na pista central. Também já está autorizada pelo governo do Estado a desapropriação da Estação da Copel. Essa parceria supera antigas brigas políticas, como se confirma com a ida em conjunto do Governador e Prefeito para a África do Sul, no lançamento oficial do Brasil como sede da próxima Copa. Além dos investimentos públicos, o evento vai “mexer” com o turismo e já existem recursos previstos para qualificação de taxistas e da mão-de-obra do setor hoteleiro. A mesma qualificação também se volta para Foz do Iguaçu e cidades históricas do Estado, que certamente atrairão turistas. Informa que o metrô de Curitiba não foi exigência da FIFA. Finaliza ressaltando que a “Copa só veio para Curitiba” por duas razões: pela cidade e pelo estádio. E que quem sabe Curitiba possa receber as seleções da Itália e da Alemanha?Zelinda Rosário – IPPUC

Faz uma apresentação que inicia historiando a escolha das 12 cidades-sede e que essa escolha implicou em uma formalização de compromissos para atendimento aos requisitos. Um deles, a escolha de um interlocutor na cidade, que responde por todos os contatos com a FIFA (no caso de Curitiba, Eduardo Lopes, Secretário de Relações Internacionais da Prefeitura). Foi criado um grupo de trabalho com apoio dos demais secretários municipais e do Estado, além de comitês e comissões legislativas. O projeto elaborado pelo IPPUC foi apresentado ao Conselho da Cidade de Curitiba (CONCITIBA), demonstrando que o processo é democrático. Anota que esta é a primeira “Copa sustentável”, e esse conceito perpassa o estádio, o evento, a cidade, e o aeroporto – entre as infraestruturas necessárias. Antecipa que as obras propostas já faziam parte do planejamento urbano de Curitiba. Sobre o estádio, apresenta uma série de slides do projeto, informando que faltam ainda 9 etapas para a conclusão, incluindo a ampliação, para que atenda à exigência da FIFA de um mínimo de 40 mil pagantes; estacionamentos; segurança; setores vip e “vvip” (very very importa people); entre outros itens, todos assegurando a sustentabilidade do estádio, que inclui a ambiental e a multifuncionalidade de uso do equipamento após a Copa. Nesse sentido, chama a atenção para estruturas moduladas que serão usadas complementarmente ao estádio e que posteriormente poderão ser transformadas em ginásios esportivos em escolas da periferia. A preparação do evento  prevê itens relativos à hospitalidade, afiliados comerciais, ticket centers, mídia, voluntários, youth  (crianças que acompanham jogadores), centros de treinamento (previstos para os demais estádios da cidade), fan parks (telões públicos previstos para a Pedreira, Ópera de Arame, Parque Barigui e velódromo do Jardim Botânico), e neste caso adverte que o clima frio não propicia o uso generalizado dessa infraestrutura, salvo em dias de jogos do país, como constatou em sua visita às cidades da Copa na África do Sul. O Atlético tem a grande vantagem de se localizar próximo à principal rede hoteleira e ao transporte de massa. Sobre o item cidade, destaca a mobilidade urbana, energia constante, hotelaria, saúde, saneamento, segurança, telecomunicações, turismo, infraestrutura, entre outras exigências da FIFA. Apresenta uma sequencia de mapas com a situação das obras previstas para o município, além do “corredor metropolitano” e suas radiais, num total de R$ 450 milhões. O aeroporto é apresentado a partir de slides sobre obras internas ao equipamento. Finaliza a apresentação com outras obras previstas para a cidade, incluindo a Visconde de Guarapuava, que será equipada com ciclovias e áreas para circulação de pedestres; o metrô (numa primeira etapa entre a CIC sul e a praça Eufrásio Correa, e numa segunda etapa, dessa para o terminal Santa Cândida); um plano cicloviário, com previsão de compartilhamento das locomoções com automóvel; a “revitalização” da área central; um bonde turístico; a Linha Verde norte, diferindo da sul pela existência de trincheiras e viadutos. Como legado, a cidade receberá um estádio multiuso, será promovida internacionalmente, e será consolidada como novo destino para futuros eventos; a população terá elevada a autoestima, aumentará a segurança e a mobilidade; serão incentivados esportes; e se ampliará a oferta de emprego e renda, ocorrerá maior integração social, desenvolvimento social e econômico.

Andrea Braga – UNICEMP, representante do Observatório de Políticas Públicas Paraná
A Professora Andrea retoma a sigla “vvip”, em uso pela FIFA, afirmando que ela cabe, sim, a todas as pessoas da sociedade civil, aos cidadãos. Mostra que as consequências dos investimentos para a Copa em Curitiba não serão apenas positivas, como salientaram os dois apresentadores anteriores, mas em grande parte negativas, como já se constatou em outros lugares, em situações de grandes eventos. Questiona: “que benefícios efetivamente trarão à população em sua dimensão ampla? Que acesso terão todos aos equipamentos adequados e construídos para o evento? Teriam eles verdadeiramente caráter redistributivo? Elevariam de fato a condição de desenvolvimento, em seu sentido amplo? Ou, como se presume, estariam ligados ao crescimento da renda e da economia restrita a grupos específicos?” Cita o relatório da ONU sobre megaeventos, elaborado com ênfase no direito à moradia, que mostra resultados assustadores de desrespeito aos direitos, com relocações não negociadas, despejos forçados, desalojamentos sumários, entre outros atos de explicita exclusão social. Destaca: “estamos atentos a ele!”. Questiona também: “o que se prevê que garanta o controle social desses investimentos públicos? Como serão respeitadas as prioridades sociais na ordem dos investimentos do município? E como se garantirá a continuidade democratizada de usos e a não obsolescência precoce dos equipamentos instalados para a Copa?” Salienta que, mais que tudo, é fundamental que sejam respeitados os direitos humanos e a cidadania na região metropolitana. Tomando em conta que este é o primeiro de muitos debates necessários neste processo de acompanhamento e observação das tomadas de decisão e investimentos para uma Copa de futebol, e que deve ser compartido com todos os presentes, resume nesses pontos sua participação, e “passo a bola!”.

Debate aberto
A Professora Olga Firkowski abre os debates, já com imediatas 10 inscrições, enfatizando a oportunidade de reunir 3 dimensões de interessados/envolvidos nas atividades preparatórias à Copa em Curitiba: o estado, enquanto poder público (Estado e Município), a sociedade civil e a perspectiva acadêmica. Oportunidade essa que permite que sejam apresentadas as escolhas do poder público à sociedade e à academia, certa de que tais escolhas interferirão na cidade e em nossas vidas.
1 Felipe – Coletivo de Advogados Populares
Traz a memória de que os grandes eventos se relacionam com a própria história das nações, seus momentos políticos, cheio de representações e ideologia. A Copa acontece no Brasil num momento em que o país apresenta um auge de bons indicadores econômicos e de desenvolvimento. Mas, há o lado negativo. Fruto de eventos similares, mais de 1 milhão de pessoas foram despejadas nas Olimpíadas de Beijing; 60 mil assassinatos aconteceram no Rio de Janeiro, para “pacificar” a cidade nas vésperas dos Jogos Panamericanos. Neste momento preparatório à Copa, o Brasil já realiza cortes de recursos forçados pelo superávit primário; em Curitiba, crescem os assassinatos na região metropolitana; e os investimentos realizados garantem, de fato, que as corporações vendam suas marcas nos corpos de jogadores e em tudo onde for possível durante as competições… Pergunta: “é isso que queremos?”
2 Alex – professor e mestrando em Geografia, na UFPR
Levanta problemas em Curitiba que podem se agravar com as obras, caso do rio Água Verde, que passa por baixo da arena do Atlético. Há projetos para ele? Questiona os recursos públicos investidos na iniciativa privada, sem levar em consideração áreas da cidade que poderiam ser dinamizadas, como a região do Pinheirinho, com espaço para investimentos de maior porte. Seria importante capitalizar mais, buscar mais contrapartidas para as necessidades sociais e ambientais da cidade. Pergunta: “onde estão os projetos sociais? Será que se resumem a esconder a Vila Pinto (Vila Torres) por trás de tapumes?”

3 Leonildo – Movimento dos Moradores de Rua

Existem projetos que busquem opções de moradia e de abrigo à população de rua? Lembra da visita da rainha Elisabeth ao Rio de Janeiro, quando levaram moradores de rua em navios e os jogaram ao mar. Ressalta o que está chamado de “higienização” da cidade. Pergunta: “o que fará Curitiba, com seu conservadorismo, com os moradores de rua? Afinal, morador de rua paga imposto, pois consome. Qual o trabalho que será feito com os moradores de rua na Copa?”
4 Gislene – professora do Departamento de Geografia da UFPR
Em relação aos recursos em haver, das automotivas, pergunta: “por que só estão sendo pensados em se utilizar agora? O que o IPPUC compreende por integração da sociedade?” Critica que foi apresentado mais o projeto do estádio que os relativos à cidade. Diz-se envergonhada ao saber que os módulos recicláveis serão levados à periferia, “pois escolas de periferia merecem muito mais. Não devem aguardar o final da Copa”. Encerra realçando a importância de se assistir aos jogos em coletivo, nas ruas, porém, aponta que as manifestações atuais, pós-jogos desta Copa, estão sendo vedadas, reprimidas em Curitiba. “O que acontecerá a manifestações coletivas numa Copa com tantos controles e exigências?”
5 Alexandre – Ambiens Sociedade Cooperativa
Embora esteja claro que já existe uma arquitetura institucional para a gestão dos projetos, pergunta: “já está discutido como serão controlados esses recursos? Como serão administrados os conflitos cotidianos pré e durante a Copa? Como tornar os participantes, em sua amplitude, partes do processo?” Informa que também chegou da África há 2 dias, e que estava lá como morador. Pode acompanhar as severas restrições e os inúmeros conflitos entre integrantes do setor de transportes, taxistas, os vendedores de rua que se prepararam para um comércio ampliado e que foram sumariamente proibidos de vender nas ruas. “Como será a disputa às decisões com a gestão da FIFA pré-evento?”

6 Miguel – professor do Departamento de Turismo da UFPR

Parabeniza o evento, entendendo como início de um processo maior e necessário. Diz que “o desafio da Copa já nos foi imposto”. Considera que o orçamento é modesto, que falta arrojo aos projetos, quando comparados a outros estados. Propõem que se abra uma oportunidade para que sejam detalhados e discutidos os projetos para a cidade, pois os slides exibidos não mostram mais que eixos que não levam nada a lugar nenhum. Critica as intervenções públicas no entorno do Atlético, que ganhará mais de 10 mil m2 com a incorporação da praça. Reforça que há que se pensar na questão social, há que se pensar nos demais estádios, no entorno deles, todos atualmente com sérios problemas de acesso e evacuação pós-jogos, além da questão da segurança, “que independentemente de exigências da FIFA, já é uma exigência nossa”. Critica também a ausência de benefícios verdadeiramente sociais nas propostas apresentadas, formas de inserção das comunidades, entre outros. Fazendo uma analogia com a cessão em comodato, pelo município, do espaço onde se situa o prédio da Faculdade de Direito da UFPR, questiona por que não transformar também em comodato a Arena do Atlético? Conclui perguntando: “como tudo isso fica após as mudanças dos governos?”

7 Luiz Herlain – Central de Movimentos Populares

Acentua que “estamos trabalhando no fato consumado.” Prossegue afirmando que a população não teve direito à escolha. As apresentações mostram uma cidade preparada para obras, sem o contexto humano, e sob interesses do capital. E que são esses os interesses que “vão fazer a Copa de 2014”. O favorecimento do Atlético e o apoio do setor público ignoram que os pequenos estádios e clubes amadores vêm sendo destruídos nos últimos anos, sendo reduzidos drasticamente. Pergunta qual o projeto do município e Estado para incentivo ao esporte na cidade? Outra preocupação é quanto às mudanças na legislação, que estão ocorrendo ou previstas. Questiona o fato de que elas não estão atendendo aos ditames de gestão participativa do Estatuto da Cidade, e pergunta: “estamos atendendo aos preceitos da Constituição Federal, da lei orgânica do município?” Exalta a importância de um debate como este e sugere que os próximos sejam gravados, para garantir a memória da riqueza das proposições e dos detalhes das críticas. Pergunta: “por que a TV Educativa não está aqui?” Ressalta fatos que têm que se tornar públicos, como os 37 mil imóveis cujos contratos com a COHAB, na RMC, foram cancelados pelo STJ. Conclui dizendo que, apesar do fato consumado, “temos que resgatar o direito de participar”.
STJ cancelou todos os contratos que a COHAB têm na região, um total de 37 mil.
8 Quito – Centro de Solidariedade aos Povos
Inicia ponderando que se deve entender a Universidade como um local de crítica, como uma forma de oferecer contribuições ao estado. Critica que, diante de tudo consumado em termos de infraestrutura, faltam discutir investimentos na educação, na saúde. Ficar preocupado só com a infraestrutura é negar a população. Coloca em discussão as intervenções na praça do Atlético e pergunta: “as pessoas que usam a praça, que a frequentam no cotidiano, elas foram consultadas?” Afirma que não, que nenhuma foi ouvida. Questiona a escolha do lugar, lembrando a antiga proposta da Vila Olímpica em Curitiba, projetada para a região do Pinheirão, jóquei, hípica. “Por que descartar essa idéia?” Lamenta que o procedimento está errado, que não dá para ser dessa forma. “A história do planejamento de Curitiba nunca contemplou projetos de tamanho considerável como os de agora. Então, é o momento de se levar com seriedade, com participação.” E que há que ser muito bem planejado o que se reverterá para a cidade, afinal, “quem de nós vai estar sentado nessas arquibancadas nos jogos da Copa?”
9 Gerwin – Central Única dos Trabalhadores
Alega que a essência dos problemas está no fato de o capitalismo ter se apropriado do futebol. Passa a tecer algumas considerações: as medidas de higiêne social que fazem parte do planejamento de Curitiba, a exclusão social, a desconsideração para com a população de rua (compara ao Rio de Janeiro, onde a PM entende essa população como um prejuízo à visibilidade da cidade), a possibilidade de se criar equipamentos que logo se tornam superados (como os do Pan, no Rio), a presença das grandes marcas dentro da FIFA, e o acesso apenas a privilegiados aos jogos. Considerando tudo isso, “os movimentos sociais presentes fazem um apelo: que esta iniciativa se amplie e deixe claro que não se pode aceitar que recursos públicos sejam internacionalizados pelo capital, sem nenhuma contrapartida à sociedade.” Enfatiza que é preciso se organizar, pesquisar os fatos, divulgar os resultados, debater as consequências dos eventos passados e tudo o que fica invisibilizado, por trás da pirotécnica da mídia e do marketing, com relação aos seus efeitos socialmente desastrosos.
10 Bruno – Ambiens Sociedade Cooperativa, mestrando em Geografia pela UFPR
Inicia ponderando que as apresentações ficaram aquém do esperado, confusas e com referências discriminatórias (como a de Algaci, de que para Curitiba ficaria melhor sediar seleções como Itália e Alemanha). Fará uma análise do ponto de vista da população. Afirma que a população se sente desrespeitada pelo esquema das exigências. Pergunta: “o que estamos ganhando?” Coloca em dúvida a verdade das exigências, posto que o metrô já foi apontado como uma das exigências, e agora não é mais. Ressalta: “as exigências são falsas”. Orienta que a sociedade não tem que aceitar as exigências quando elas impedem a atenção a demandas básicas da população. Água, luz elétrica, saúde, educação, moradia: “isso está em debate?”. Avança perguntando: “e as nossas exigências? Quem vai pagar as exigências da Copa?” Cita editoriais de William Waack, da Globo, sobre fatos perversos da Copa da África do Sul, como a constituição de “tribunais especiais” para condenação de cidadãos comuns (refere-se ao caso da condenação a 15 anos pelo roubo de uma câmara fotográfica de um jornalista). “Estado de exceção? Exigência da Copa?” Cita outro editorial do mesmo jornalista que se referiu à tributação, que vai onerar por 20 anos a população sul-africana pela “divulgação da imagem do país” ao mundo. Diante disso, “qual o nosso benefício?”
Retorno aos palestrantes
Zelinda Rosário – IPPUC

Observa que tudo o que foi colocado é relevante, do ponto de vista da cidadã. Como técnica, afirma que se obriga a se dedicar a projetos com escolhas definidas. Sobre as observações pontuais que lhe foram dirigidas, questiona: “onde começaram as decisões?” Foi o Governo Federal que deu início ao processo e as cidades escolhidas apenas vão aproveitar as condições oferecidas. Argumenta que “estamos discutindo para que todos participem e visualizem novas oportunidades de participar.” Ressalta que essa participação está prevista nas audiências públicas, e que a pressão dos prazos para atender às demandas, a obrigação de respeitar a confidencialidade dos projetos, entre outras condições, vêm dificultando discussões públicas. Sobre o reaproveitamento dos modulados – e diz que lhe causou certo incômodo a observação da Professora Gislene –, eles são reaproveitáveis, cumprindo o conceito da sustentabilidade. De fato, assume de usou a palavra indevidamente, “mas não quis dar o sentido de exclusão. Apenas exemplificar que a obra não vai se perder, vai se reciclar.” Sobre o rio Água Verde, há um projeto em negociação que coloca o trecho que passa por baixo da Arena sob responsabilidade do “projetista do Atlético”. Quanto à praça do Atlético, informa que não está prevista a incorporação dos 10 mil m2 pelo clube. Reforça, para concluir, que o IPPUC apenas colabora em um processo muito mais amplo, com muitos outros participantes. E que como cidadã, também entende o social como muito importante. “Sei que não estamos fazendo tudo da maneira mais correta, mas tentando aproveitar as oportunidades. Sou Coxa Branca e, mesmo assim, estou muito entusiasmada.”
Secretário de Estado Algaci Tulio
Tomando a crítica de Bruno, argumenta que falou que seria melhor a presença das seleções da Itália e Alemanha em Curitiba no sentido que Curitiba “ganharia mais com isso”. Em relação às demais críticas, pergunta: “será que seria melhor assistir à Copa em outras cidades, pela TV? Se há problemas, ressalta que “temos que tirar proveito dos aprendizados”. A possibilidade do investimento é boa e deve ser otimizada. “Teremos problemas, mas aprenderemos muito com os ensinamentos da África do Sul.” Sobre o debate, afirma que “estamos aqui cumprindo um convite, e sabíamos que não iríamos agradar a todos”. Ressalta a importância das contribuições e que, também no seu entendimento, “queremos uma sequência de debates”, para poderem ser apresentadas em detalhes as diversas temáticas que envolvem o evento. “Mostrei o que vai ser feito. As conseqüências, temos tempo para debater e evitar que aconteçam. E acredito que isso possa ocorrer. Vamos fazer uma bela Copa do Mundo e colher muito mais resultados positivos do que negativos.”
Professora Olga Firkowski
Lamenta não poder receber mais inscrições pelo fato de a Universidade estar encerrando o expediente, pois já passa das 22:30 horas. Como palavras finais, salienta que há muitas dúvidas e inquietações represadas, e que a evasão desse represamento se transformou em uma riqueza de questionamentos, mas também de idéias. Ressalta que não se pode represar o potencial de discussões por tanto tempo, por isso, há que se dar continuidade ao debate. Este seria o primeiro passo, no âmbito de oferecer informações para que as entidades, instituições e pessoas presentes formem suas posições. Outros debates acontecerão, para esclarecimentos e proposições. Agradece e salienta mais uma vez que este é o primeiro, e outros (de)bates-bola virão.
(anotações de Rosa Moura – 01/07/2010)
Promoção: UFPR-GEDIME, Observatório de Políticas Públicas Paraná, Observatório das Metrópoles
Curitiba, UFPR-Anfiteatro 100
01 de julho de 2010, 19:00 h